Dani Salles (de boné) questiona papel de empregada muda no reality show “Era Uma Vez na Quinta”. Crédito: Reprodução/SIC

Dani Salles (de boné) questiona papel de empregada muda no reality show “Era Uma Vez na Quinta”. Crédito: Reprodução/SIC

Brasileira sofre xenofobia em reality português

Influenciadora Dani Salles foi alvo de comentários preconceituosos durante o programa

13/03/2024 às 16:13 | 4 min de leitura
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Uma brasileira foi vítima de xenofobia durante a dinâmica de um reality show exibido pela SIC, um canal aberto de tevê português. O episódio foi levado ao ar no último dia 6 no programa Era Uma Vez na Quinta. A emissora não expulsou nem advertiu os participantes sobre o comportamento discriminatório.

Durante um jogo em grupo, na qual era necessário montar uma peça de teatro, a então líder do jogo, Manuela Pinto, atribuiu à brasileira Dani Salles uma personagem que seria muda, e deixou claro que sua decisão foi tomada por causa do sotaque da participante.

Ao confrontar Manuela, Dani recebeu como justificativa que sua personagem não teria falas devido à nacionalidade brasileira, já que, segundo a líder, a história da peça possuía elementos exclusivamente portugueses. 

A BRASIL JÁ pediu um posicionamento à SIC, que repassou a responsabilidade à Fremantle, empresa que produz o programa. A produtora do reality informou que "a situação ficará cabalmente resolvida no programa a emitir no próximo fim de semana." (confira íntegra da resposta mais abaixo)

Como foi o diálogo

A participante Manuela, então líder da dinâmica, disse o seguinte: 

“Nós não queremos que entrasse muito uma brasileira porque estamos a falar de cem anos atrás, e normalmente, aqui em Portugal, não havia nenhuma família brasileira”, disse Manuela.

Em seguida, Dani disse que não aceitaria o papel pois também queria fazer parte dos diálogos na peça. 

“Eu não concordei com isso nem com a questão de ser brasileira ou não. Essa questão de eu ser brasileira não tem nada a ver”, questionou a influenciadora digital.

Manuela respondeu: “Se queres falar, falas. Pois entregues a comida e diz ‘está muito delicioso’. Não tenho nada contra os brasileiros, não pense nisso”.

A participante brasileira ficou visivelmente incomodada com a fala e argumentou que gostaria de participar da dinâmica de forma mais ativa.

“Aqui é uma peça de teatro, não precisa ser igual. Quero ter mais fala, gosto de falar, represento bem. Realmente não sei falar o sotaque português, mas é uma peça de teatro, uma brincadeira, não tem que ser exatamente igual”, disse Dani.

Em seguida, Manuela afirma que se Dani quiser falar durante a peça, pode. A discussão continuou. Dani perguntou como foi feita a escolha dos personagens, e a líder respondeu, dizendo ter direcionado o papel de empregada muda à brasileira.

“Eu visualizei quem ficava melhor num personagem ou no outro. Não é que parece que tu tens cara de criada”, disse Manuela.

A influencer brasileira então diz: “Não, eu não estou falando isso. Eu posso ser empregada, não tem problema nenhum. Só tem duas coisas que eu não gostei: eu gostaria de ter fala, e a segunda coisa que eu não gostei é em relação (ao fato de) por eu ser brasileira, você me colocou numa personagem sem fala".

Manuela insiste: “Não tornes pessoal. Era porque antigamente, há cem anos atrás, não havia brasileiros”. E Dani acrescenta à discussão: “Acontece que tem uma brasileira aqui na Quinta e eu tenho que ser incluída igual os outros.”

Em depoimento gravado para o programa, Dani disse que não queria usar o termo “preconceito”, mas que a atitude soou preconceituosa. “Isso me soou um certo… não queria usar esse termo, mas um certo preconceito. Me excluiu do grupo”, afirmou.

Situação pior nos bastidores

O assunto continuou rendendo dentro da casa e, dois dias depois (8 de março), a apresentadora do reality teve uma conversa com Dani, Manuela e também Pedro Vieira, outro concorrente que ajudou a delegar o papel sem falas para a brasileira.

Durante o diálogo, Pedro declarou que atribuiu à participante brasileira um papel secundário devido à falta de afinidade que sente por ela.

No entanto, a emissora transmitiu imagens dos bastidores da escolha de personagens, onde, em diálogo com Manuela, Pedro Vieira assume que o problema é o sotaque dela.

"Dani não pode falar, porque vai falar com sotaque brasileiro”, disse Pedro. “Então, colocamos ela de empregada doméstica", respondeu Manuela ao Pedro, que completou: "Brasileira empregada, faço muito gosto".

Na reunião, Dani disse que desculpava Manuela pois via sinceridade nela, o que não aconteceu com Pedro, que ainda deu risadas durante a conversa.

“Peço desculpa pela atitude, mas não pela xenofobia, porque não existe”, ele disse.

Quem é a brasileira que sofreu xenofobia em reality português


Em 2021, a influenciadora que mora em Cascais ganhou destaque em Portugal ao popularizar o bordão "Oi, Cascais", que se tornou o nome de seu perfil nas redes sociais. O perfil @oi.cascais tem 37 mil seguidores.

Ela se tornou conhecida ao compartilhar vídeos que comparavam os sotaques de Portugal e Brasil, conquistando os portugueses com seu estilo bem-humorado.

Os administradores que cuidam da conta no Instagram enquanto ela permanece confinada fizeram vários posts pedindo de que a emissora tome alguma atitude.

“Os concorrentes não foram expulsos, não levaram advertências e a Dani não viu as imagens”, diz uma das publicações sobre o fato de Dani ter perdoado Manuela.

Em outro post, eles dizem preocupados com a saúde da participante. “É visível que a Dani não está bem no programa, parece triste, sem energia… Acredito que seja por tudo isso o que ela está passando lá”, diz o perfil. 

O que diz o programa

A BRASIL JÁ questionou a emissora de televisão portuguesa SIC, que exibe o programa “Era Uma Vez na Quinta”, formato parecido com A Fazenda, exibida no Brasil pela Record TV.

No entanto, a SIC disse que a responsabilidade pelo produto era da produtora do programa, Fremantle, que afirmou que a situação ficará resolvida no programa que será exibido no próximo fim de semana. A produtora não explicou de que forma o caso será abordado. 

Leia a nota na íntegra:

"Antes de mais, importa referir que a produtora Fremantle não se revê em nenhum comportamento xenófobo, sob todas as suas formas, desde que começou a produzir formatos televisivos há mais de 20 anos. 

Relativamente ao programa Era uma vez na quinta, e na sequência da situação referida no e-mail abaixo, promoveu-se, no contexto dos conteúdos do programa, uma conversa entre a apresentadora e os três visados (Daniela Mello, Pedro Vieira e Manuela Pinto), tendo por objetivo que fossem os próprios a procurar e conseguir esclarecer a situação. 

Nesse contexto, a Daniela aceitou um pedido de desculpas da Manuela, que assume que nunca quis ter qualquer tipo de comportamento que melindrasse quem quer que fosse. A Fremantle procurou sempre que o assunto fosse debatido entre todos os intervenientes, numa perspetiva de consciencialização para com esta temática. 

A situação ficará cabalmente resolvida no programa a emitir no próximo fim-de-semana."

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