A proximidade cultural e linguística com o Brasil faz de Portugal o destino mais atrativo para empreendedores brasileiros que desejam internacionalizar seus negócios para a Europa.
Os desafios associados ao que é conhecido como o "custo europeu" —conjunto de barreiras burocráticas, tarifárias e logísticas—, no entanto, coloca à prova a resiliência e a criatividade desses empresários.
O fato é, contudo, que várias marcas brasileiras já se destacam neste mercado com mais de 500 milhões de consumidores.
O termo descreve as dificuldades e custos adicionais enfrentados por importadores brasileiros ao inserir seus produtos no mercado português. Entre os principais fatores estão:
Tarifas e impostos: Produtos brasileiros estão sujeitos a altos impostos, como o IVA, direitos aduaneiros, aumentando significativamente o preço final. Cada país define suas próprias taxas de IVA, dentro de limites estabelecidos pela União Europeia.
Burocracia alfandegária: Processos de liberação de mercadorias exigem extensa documentação, como o HS-Code e certificados de conformidade, que podem ser demorados e complexos.
Exigências técnicas e legais: Normas rigorosas da União Europeia, como testes microbiológicos e certificações de segurança alimentar, são obrigatórias, especialmente para alimentos e bebidas.
Custos logísticos: Desde transporte marítimo e aéreo até distribuição rodoviária, os custos podem inviabilizar operações, especialmente para pequenos empreendedores.
Desafios específicos para produtos brasileiros
1. Produtos lácteos e biscoitos Produtos derivados de leite enfrentam uma das regulamentações mais rigorosas da União Europeia. Testes de segurança alimentar e o controle da cadeia de frio tornam o processo caro e demorado.
Dias Branco, responsável pelos biscoitos Piraquê, precisou, por exemplo, adaptar rótulos e ajustar seus produtos às exigências locais, aumentando os custos de importação.
2. Açaí e produtos orgânicos A marca Oakberry, especializada em açaí, enfrentou desafios com a reclassificação de rótulos. O termo orgânico, amplamente usado no Brasil, precisou ser substituído por biológico para atender às normas portuguesas. Além disso, a burocracia alfandegária atrasou a chegada de seus produtos.
Portugal desempenha um papel central na estratégia de expansão europeia da Oakberry. O país foi escolhido como mercado de teste para validar o produto no continente, devido à sua proximidade cultural com o Brasil e à facilidade linguística.
A partir do sucesso em Portugal, a Oakberry expandiu rapidamente para outros países europeus, como Espanha, França, Reino Unido, Irlanda e Holanda, totalizando 140 unidades em 21 países da Europa.
“A Oakberry já é uma das principais marcas de açaí na Europa, com uma forte presença tanto em lojas físicas quanto em supermercados”, diz Ricardo Cherto, sócio da empresa.
3. Logística rodoviária Ricardo Leitão, fundador da Mercearia da Terra (mercadinho de produtos brasileiros), diz que a empresa enfrenta custos elevados com transporte e taxas alfandegárias em Portugal.
Para contornar isso, conta, muitos empresários optam por importar via Espanha, utilizando o transporte rodoviário para Portugal, reduzindo custos e acelerando a entrega.
A burocracia na alfândega portuguesa é um dos principais obstáculos enfrentados por pequenos empresários como Ricardo.
O processo de liberação de mercadorias pode ser moroso, exigindo uma extensa documentação, e muitos produtos brasileiros enfrentam restrições específicas.
Um exemplo são os derivados de leite, que têm sua entrada dificultada devido às regras sanitárias e fitossanitárias da União Europeia. Além disso, os custos associados ao processo alfandegário podem ser proibitivos.
O empresário menciona que a diária de um contêiner parado na alfândega em Portugal custa cerca de 400 euros, caro demais para pequenos importadores.
Esse custo extra pode inviabilizar a operação de empresas que dependem da venda de produtos alimentícios com margens de lucro já apertadas, como o Mercadinho.
A famosa marca de sandálias Havaianas também enfrentou desafios consideráveis ao entrar no mercado europeu.
Liel Miranda, presidente-executivo da Alpargatas, mencionou a complexidade da logística de importação, onde todas as Havaianas vendidas na Europa são produzidas no Brasil e enviadas para centros de distribuição na Espanha.
Essa operação requer um planejamento logístico eficiente para garantir o abastecimento contínuo.
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