O ex-presidente Jair Bolsonaro desembarca no aeroporto Santos Dumont, em junho de 2023. Crédito:Tânia Rêgo, Agência Brasil
Golpistas tentaram despistar TSE com site de desinformação hospedado em Portugal
Inquérito da Polícia Federal sobre tentativa de golpe mostra que objetivo era driblar decisão da Justiça Eleitoral que tirasse página de desinformaçao do ar
26/11/2024 às 14:56
| 3 min de leitura
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A investigação da Polícia Federal brasileira que responsabiliza o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado revela que Portugal serviu como refúgio digital de uma página usada para difundir mentiras sobre o resultado da eleição presidencial no Brasil, em 2022.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes retirou, nesta terça (26), o sigilo da investigação e encaminhou o relatório final do inquérito para a Procuradoria-Geral da República, que vai analisar se oferece denúncia contra os indiciados.
Durante o monitoramento dos investigados, uma mensagem pescada pelos agentes federais traz a única menção ao país europeu nas mais de oitocentas páginas do relatório e evidencia uma estratégia dos suspeitos para driblar a Justiça Eleitoral e seguir com a difusão de mentiras.
Na página 117 do relatório é reproduzido texto do tenente-coronel do Exército Marques de Almeida, então lotado no Comando de Operações Terrestres da força, afirmando que a eleição fora fraudada. A mensagem foi compartilhada por WhatsApp à uma da tarde do dia 4 de novembro de 2022.
“Fizeram um site completo, com todo o material da investigação sobre a maior fraude do século! Nosso time é bom demais, incrível. Esse está hospedado em Portugal. O site que estava no Brasil foi derrubado. brazilwasstolen.com/pt/”, dizia o conteúdo mentiroso espalhado pelo tenente-coronel.
O que a investigação aponta é que o oficial fez parte de uma "núcleo de desinformação e ataques ao sistema eletrônico de votação". A PF também sustenta que o militar fez uso de sua expertise em operações psicológicas para dar suporte à tentativa de golpe de Estado em andamento.
Sobre a hospedagem num servidor em Portugal, a Polícia Federal afirma na página 114 do documento que sites e cidadãos estrangeiros foram usados para disseminar notícias falsas sobre o sistema eleitoral porque, àquela altura, o Tribunal Superior Eleitoral dava seguidas ordens para que publicações falsas contra os presidenciáveis fossem apagadas.
"Utilizando fontes de disseminação fora do país, o chamado 'grupo investigativo Brazil Was Stolen [O Brasil foi Roubado]' afirmou que uma simples reprogramação do código da urna antes da eleição poderia levar a que votos que iriam para Jair Bolsonaro fossem computados para Lula", informou a PF.
O que a investigação demonstra é que o tenente-coronel da ativa Marques de Almeida e mais nomes ligados diretamente à campanha de Jair Bolsonaro tentaram emplacar falsas teses contra a urna eletrônica para respaldar um possível golpe contra a demoracia.
A emaranhada rede de apoiadores do ex-presidente dispostos a difundir mentiras era transnacional, como mostra outro trecho do documento da PF. Na página 116, é detalhado que mensagens reenviadas por Marques de Almeida foram originalmente divulgadas por Fernando Cerimedo, um argentino que segundo a polícia também integrou a trama de desinformação. Ele também foi indiciado pela PF.
No mesmo dia 4 de novembro, quatro dias após a vitória de Lula no segundo turno das eleições, a investigação indica que Marques de Almeida reenviou três vezes seguidas, às 18h39, 18h40 e 18h40, um link de transmissão apresentada por Cerimedo afirmando que a inexistente fraude eleitoral fora comprovada.
A BRASIL JÁ tenta entrar em contato com as defesas dos suspeitos mencionados nesta reportagem.
Atuação direta de Bolsonaro
A Polícia Federal concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro atuou de "forma direta e efetiva" nos atos executórios para tentar um golpe de Estado em 2022. De acordo com a PF, Bolsonaro tinha conhecimento sobre o planejamento das ações para atentar contra a democracia brasileira.
"Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa", afirma a corporação.
No relatório final entregue pelo Supremo Tribunal Federal à Procuradoria-Geral da República, os investigadores também afirmam que Bolsonaro tinha conhecimento do chamado Punhal Verde e Amarelo, plano que, segundo a PF, foi elaborado para matar o ministro Alexandre de Moraes, o presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin.
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