Kamala Harris e Donald Trump, candidatos à Presidência dos Estados Unidos. Crédito: Lusa

Kamala Harris e Donald Trump, candidatos à Presidência dos Estados Unidos. Crédito: Lusa

Jornais dos EUA orientam voto a candidatos nas eleições, algo que no Brasil não se faz

Veículos norte-americanos dizem abertamente em editoriais se são contra ou a favor de candidaturas

05/11/2024 às 15:39 | 3 min de leitura
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"Vocês já conhecem Donald Trump. Não está apto para liderar. Observem-no. Escutem aqueles que o conhecem melhor. [Donald Trump] Já tentou subverter uma eleição e continua a ser uma ameaça para a democracia." Foi assim que nesta terça (5), dia das eleições norte-americanas, o Conselho Editorial do New York Times comunicou aos seus leitores qual é a posição do jornal a respeito de Trump.

O texto é seguido de várias notícias publicadas pelo próprio jornal sobre a administração do ex-presidente dos Estados Unidos, entre 2017 e 2021. Para o New York Times, como chefe de Estado, Trump, por exemplo, ajudou a anular a decisão judicial Roe —que trata da liberdade das mulheres grávidas escolherem interromper de forma voluntária a gestação— o que, segundo o jornal, provocou "consequências terríveis".

"A corrupção e a ilegalidade de Trump vão além das eleições: são a ética. Ele [Trump] mente sem limites. Se for reeleito, o Partido Republicano não o vai parar”, afirmam os membros do conselho editorial.

Em nome de uma pretensa imparcialidade, críticas enfáticas a candidatos como a anterior e de mais veículos norte-americanos não são costume em empresas de comunicação no Brasil. Nos Estados Unidos, porém, tradicionalmente os meios deixam claro quem não apoiam durante as eleições. 

Ainda com o exemplo do New York Times, no mesmo texto desta terça o jornal publicou que Trump, caso vença, pode usar "a administração para perseguir os opositores", além de "adotar uma política cruel de deportações". E mais. Para o conselho editorial do diário, uma eventual vitória de Donald Trump pode atingir os mais pobres, a classe média e os trabalhadores, prejudicar políticas de proteção ambiental e destruir alianças. 

A consolidação de textos críticos nos Estados Unidos que endossem ou rejeitem certos políticos é tamanha que os veículos que não o fazem acabam sendo penalizados pelos própripos leitores. 

Foi o caso do Washington Post, que na semana passada, por ordem do dono, o bilionário Jeff Bezos, criador da Amazon, decidiu que não iria se posicionar editorialmente. A consequência: duzentas mil pessoas deixaram de assinar o jornal.

Bezos, em contrapartida, escreveu na coluna do jornal que a maioria dos norte-americanos "acredita que os meios de comunicação social são tendenciosos", e que, portanto, no entendimento dele a decisão de não apoiar a candidatura de Kamala Harris ou Donald Trump foi a mais correta. Em 2016, o Post apoiou Hillary Clinton em 2016 e Joe Biden em 2020, ambos candidatos contra o magnata republicano.

Além de perder centenas de milhares de assinantes, parte da equipe do Washington Post se demitiu. Outro jornal, o Los Angeles Times, também não quis se posicionar a favor ou contra de nenhum candidato nestas eleições.

A revista New Yorker foi uma das primeiras publicações a apoiar a candidata democrata, lembrando do ataque ao capitólio em 2021 e acusando Trump de ser um "agente do caos" além de um "inimigo da democracia liberal".

Jornais brasileiros se manifestam durante mandato

Se durante a campanha os veículos brasileiros se eximem de tomar partido, durante o mandato os editoriais costumam ser incisivos. Por exemplo, o Estado de São Paulo, em 11 de julho de 2021, defendeu o impeachment do então presidente Jair Bolsonaro

A manifestação do jornal foi publicada logo após Bolsonaro atacar com declarações o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, e sugerir que as eleições marcadas para o ano seguinte poderiam não acontecer. 

O estudo Ranking dos Políticos analisou editoriais de 2023 a respeito do atual governo Lula. Dos 197 textos daquele ano, a Folha de São Paulo foi crítica ao governo em 131 publicações (66,5%). Na Gazeta do Povo, de 138 editoriais, 116 foram negativos (84%).

No ano passado, o Estado de São Paulo publicou 152 textos analisando o governo desde a perspectiva editorial, e 115, ou 75,6%, foram negativos. E no jornal O Globo, de 142 editoriais, 99 foram negativos (69,7%).    

A BRASIL JÁ não recomenda votos a quaisquer candidatos, mas tem princípios firmes —leia no Estatuto Editorial da publicação— a partir dos quais avalia governos e se posiciona editorialmente. 

Com informações da Lusa

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