Lula reafirmou a importância de concluir o acordo Mercosul-UE, destacando que a França já não exerce influência decisiva nas negociações. Crédito: Marcelo Camargo, Agência Brasil.
Lula defende acordo Mercosul-UE e minimiza oposição francesa
Presidente também criticou declarações recentes de deputados franceses sobre a carne brasileira
27/11/2024 às 16:39
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Mesmo com os ataques de setores do empresariado e do governo francês, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, reforçou a importância da conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.
“Se os franceses não quiserem o acordo, eles não apitam mais nada, quem apita é a Comissão Europeia. E a Ursula von der Leyen tem procuração para fazer o acordo, e eu pretendo assinar esse acordo este ano ainda. Tirar isso da minha pauta”, afirmou.
O acordo, que está em negociação há mais de duas décadas, foi concluído em 2019, mas enfrenta entraves na revisão de termos e na implementação.
Entre as questões centrais está a resistência de alguns setores europeus, liderados pela França, que difundem argumentos falaciosos contra práticas agrícolas do Mercosul, o bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Afirmam os críticos franceses que a concorrência no setor agropecuário seria delseal e um dos motivos é o uso de defensivos agrícolas e preocupações ambientais. No entanto, a preocupação real dos europeus é que a produção sul-americana desbanque as companhias nacionais.
Para Lula, a aprovação do pacto é crucial não apenas por questões econômicas, mas também como um marco político.
“Eu quero que o agronegócio continue crescendo e causando raiva num deputado francês que, hoje, achincalhou os produtos brasileiros. Porque nós vamos fazer o acordo do Mercosul nem tanto pela questão do dinheiro. Nós vamos fazer porque eu estou há 22 anos nisso ”, declarou o presidente.
A fala de Lula faz referências às críticas do parlamentar francês Vincent Trébuchet, que durante discussão e votação simbólica sobre o acordo Mercosul-UE, na Assembleia Nacional do país, comparou a comida vendida pelo Brasil a lixo. A votação terminou com a rejeição ao pacto pela maioria da Casa.
Além da defesa do acordo, Lula destacou os esforços do Brasil para expandir suas relações comerciais globalmente. Ele revelou planos de realizar, em março de 2025, uma viagem com empresários ao Japão e ao Vietnã, para fortalecer o comércio com mercados asiáticos.
O presidente também disse que essa busca por novos parceiros comerciais será feita sem atritos com grandes potências, mesmo com a perspectiva de uma política mais protecionista nos Estados Unidos, sob o futuro governo de Donald Trump.
“Eu quero fazer tudo isso sem brigar com os Estados Unidos. Eu não quero saber se o presidente é o Trump, Biden, Obama. Eu quero saber o seguinte: o Brasil tem interesses soberanos, eles têm interesses soberanos e os nossos interesses têm que convergir. Naquilo que houver tiver diferença, a gente tranca a cara e não faz negócio.”
No mesmo pronunciamento, Lula criticou a atual taxa básica de juros (Selic), fixada em 11,25% ao ano. Ele destacou que, apesar do controle da inflação, do crescimento econômico e do aumento da massa salarial, os juros continuam elevados, prejudicando o desenvolvimento do país.
“Qual é a explicação da taxa de juros estar do jeito que está hoje? Estamos com a inflação controlada, a economia está crescendo, o menor nível de desemprego desde 2012, o maior aumento da massa salarial”, questionou.
Apesar das críticas, o presidente evitou mencionar diretamente o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ou Gabriel Galípolo, indicado para assumir a instituição em 2025.
Declarações de Mauro Vieira e polêmica com o Carrefour
Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também comentou o cenário envolvendo a relação comercial entre Brasil e França.
Para Vieira, o desconforto causado pelas declarações infundadas do presidente do Carrefour na França, Alexandre Bompard, sobre a carne brasileira, já foi superado tanto no âmbito empresarial quanto entre governos, após o pedido de desculpas público do executivo.
Na semana passada, Bompard afirmou que a carne brasileira não cumpriria as normas estabelecidas pela França. A acusação constou em comunicado divulgado por ele afirmando que não comercializaria mais carnes do Mercosul nos mercados do Carrefour naquele país.
A declaração provocou críticas de produtores brasileiros, que iniciaram um boicote no fornecimento de carnes às lojas da rede no Brasil. Em resposta à repercussão negativa, o executivo divulgou uma nova nota de retratação, na qual elogiou a qualidade dos produtos brasileiros.
Segundo o ministro Vieira, o governo brasileiro limitou sua atuação à emissão de notas oficiais, defendendo a qualidade dos produtos nacionais e esclarecendo que a questão se tratava de uma manifestação de uma empresa privada.
Vieira acrescentou que a carta de retratação de Bompard, enviada ao Ministério da Agricultura, reconheceu a excelência sanitária e o sabor dos produtos brasileiros. Para o chanceler, a postura foi suficiente para encerrar o episódio no âmbito empresarial, sem grandes impactos diplomáticos.
“Foi a manifestação de uma empresa privada, e governos não se envolvem nisso. O que fizemos foi uma nota. Ontem, houve uma segunda nota de esclarecimento da situação. A carta retratação do presidente dessa empresa foi enviada ao Ministério da Agricultura. Ao que parece, ele se desculpou. Reconheceu a qualidade sanitária e de paladar dos produtos brasileiros”, disse o ministro.
Apesar da controvérsia, Vieira lembrou que o Brasil exporta carne para mais de 140 destinos, cumprindo rigorosamente os requisitos sanitários de mercados exigentes como União Europeia, Japão, Estados Unidos e China.
Mobilização na França
Mesmo com a mobilização na França, que conta com o apoio do presidente Emmanuel Macron, diplomatas brasileiros ouvidos pela GloboNews acreditam que as críticas francesas não terão impacto prático sobre as negociações. Para eles, as declarações de Bompard e de deputados franceses refletem mais um esforço para criar um “factóide” político do que uma ameaça real ao avanço do acordo.
A próxima reunião do Mercosul, marcada para o dia 6 de dezembro no Uruguai, e deve ser decisiva para alinhar os ajustes finais do pacto. O governo brasileiro está otimista quanto à possibilidade de concluir as negociações até o final do ano, fortalecendo o bloco sul-americano e garantindo maior acesso aos mercados europeus.
Com décadas de discussões, o acordo entre Mercosul e União Europeia representa um dos principais objetivos diplomáticos e econômicos do Brasil. Além de ampliar os horizontes comerciais, sua assinatura reforçaria o papel do Brasil como uma potência emergente comprometida com práticas globais de sustentabilidade e integração econômica.
Com informações da Agência Brasil e g1
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