Apoiadora de Trump durante carreata. Crédito: EPA, Cristobal Herrera-Ulashkevich

Apoiadora de Trump durante carreata. Crédito: EPA, Cristobal Herrera-Ulashkevich

Como a volta de Trump à Casa Branca mexe com o seu bolso e a sua vida

Políticas econômicas de Donald Trump, de volta à presidência dos Estados Unidos, podem trazer impactos significativos na vida das pessoas e na economia global

06/11/2024 às 17:36 | 4 min de leitura
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A vitória de Donald Trump, eleito pela segunda vez presidente dos Estados Unidos, mexe com a economia global e a vida dos imigrantes, avaliam economistas ouvidos pela BRASIL JÁ nesta quarta (6).

Funciona como o efeito dominó, em que se uma peça cai e, em seguida, todas as outras caem, uma a uma —mas não ao mesmo tempo.

O diretor do curso de Economia da Universidade do Porto, Óscar Afonso, aponta para alguns problemas do discurso de Trump candidato, que, agora como presidente, se tirados do papel, podem responder diretamente aqui, em Portugal.

O protecionismo econômico é um deles. Durante a campanha eleitoral, o agora presidente eleito prometeu taxar em 10% tudo o que for de fora dos Estados Unidos. A medida encarece o preço dos produtos internamente e reduz o seu consumo.

"Se as empresas portuguesas que exportam para os Estados Unidos exportarem menos, significa que haverá menos produção, menos riqueza em Portugal e acabará por haver menos poder de compra", afirmou o professor. Menos produção, menos emprego, menos emprego, menos dinheiro na economia.

Estados Unidos são o principal parceiro comercial de Portugal fora da Europa. O segundo país é o Brasil, que, como um país exportador, enfrentará seus próprios fantasmas. No caso brasileiro, a produção pode ser reforçada com a China. No caso de Portugal, existe o entraves da União Europeia.

Economia ruim, a vida de imigrantes e portugueses ficará ruim.

A manutenção da guerra na Ucrânia é outra incerteza sobre a futura administração turmpista.

Trump já disse que vai parar de financiar o governo ucraniano contra os russos. Só em abril deste ano, o governo Joe Biden assinou o compromisso de ajudar a Ucrância com 61 bilhões de dólares, algo próximo de 57 bilhões de euros. Afora o que foi enviado no ano anterior.

A promessa do presidente eleito causa preocupação nos governos europeus. Reduzindo-se o apoio norte-americano aos ucranianos, a Europa precisará cobrir o vácuo deixado pelos Estados Unidos, pressionando ainda mais a economia da zona do euro. Significa: menos emprego, mais inflação (aumento do preço das coisas), menos poder de compra pelas famílias, estagnação ou recessão.

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"Se os Estados Unidos deixarem de apoiar a Ucrânia, há duas soluções: a Europa se predispõe a compensar a diminuição do apoio dos Estados Unidos, portanto é mau para a Europa, porque tem que despender mais recursos, ou então a Europa não acompanha, e a Rússia toma parte da Ucrânia", completou Óscar Afonso. 

Questão migratória

O discurso anti-imigração de Trump está alinhado ao de outros governos deste lado do Atlântico. Durante a campanha, o republicano defendeu ampliar medidas restritivas e endurecer políticas de controle fronteiriço, além de reduzir o número de vistos e processos de regularização. 

Esse movimento, tanto nos Estados Unidos como aqui na Europa, pode prejudicar setores econômicos inteiros que dependem da mão de obra imigrante, como agricultura, construção civil e serviços. A retórica trumpista ecoada na União Europeia pode gerar escassez de trabalhadores e elevar os custos de produção.

Sobre isso, Raul Velloso, economista e presidente do Fórum Internacional Inae, faz uma distinção entre os imigrantes nos Estados Unidos. Para ele, que também foi imigrante durante um período de estudos naquele país, há três categorias de estrangeiros, que podem ser impactadas de maneiras distintas. 

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A primeira delas é a de estudantes que participam de programas de financiamento promovidos pelo governo norte-americano e que, na opinião do economista, não seria afetada. 

Outra camada, afirmou, é formada por pessoas que não detêm grandes rendimentos e não está tão economicamente vulnerável quanto a terceira. Esta última, na avaliação de Velloso, vem de países pobres e limítrofes dos Estados Unidos, que saem em busca de melhores condições e assumem empregos precarizados. 

Para o economista, seria a categoria mais afetada com a agenda anti-imigração de Trump, mais agressiva se comparada com a de Kamala Harris. "Eu acho que a probabilidade dessa terceira classe, vamos chamar, ser rejeitada com ele [Trump] é maior do que seria com a outra candidata", afirmou Velloso.

Velloso não acredita que os impactos econômicos com uma restrição maior nas políticas migratórias sejam, num primeiro momento, palpáveis. 

Um estudo da Fundação Nacional para Políticas Americanas, do ano passado, indica que sem um fluxo contínuo de entrada de imigrantes, os Estados Unidos terão menos seis milhões de pessoas em idade laboral até 2040

Relações comerciais entre Estados Unidos e China

No primeiro mandato de Trump, o presidente instaurou uma disputa comercial com a China, impondo tarifas e limitando a importação de produtos chineses, afetando as cadeias de fornecimento globais. E em sua segunda gestão Trump pretende seguir com a estratégia. 

O republicano, durante a campanha, defendeu a imposição de tarifas sobre produtos importados nos Estados Unidos, além de outras medidas protecionistas. Isso elevou as expectativas de que a inflação poderá subir, impulsionando os juros e disparando o dólar, gerando receios nos mercados de outros países. 

Nesta quarta (6), o dólar ultrapassou a marca de seis reais no Brasil, com a confirmação da vitória de Trump. Com o recrudescimento da política de confronto com Pequim, especialmente em setores estratégicos como tecnologia, semicondutores e segurança cibernética, a Europa pode enfrentar pressões para se alinhar com a posição norte-americana, e isso traria consequências para suas exportações e importações de produtos essenciais para diversas indústrias. 

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, em coletiva de imprensa em Pequim, ao ser perguntado sobre como o retorno de Trump à Casa Branca afetaria as relações entre os Estados Unidos e a China, disse que "a política [chinesa] em relação aos Estados Unidos é consistente". 

Ning acrescentou que a relação entre os dois países seria "de acordo com os princípios de respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação".

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