A capital moçambicana acordou hoje com pouco movimento, no primeiro dia da nova fase de manifestações convocadas pelo candidato a presidente Venâncio Mondlane, mas ao longo da manhã o comércio abriu e os transportes funcionaram normalmente.
Numa ronda feita pela Lusa ao longo da manhã por todos os bairros da capital, não se registou qualquer manifestação. Nos dias anteriores, a polícia interviu com tiros e gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes.
Se ao início da manhã o movimento era reduzido, pouco depois, num cenário de quase normalidade na capital, comércio foi voltando aos poucos, levando a azáfama habitual de pessoas e trânsito à cidade.
Os transportes também funcionam normalmente, mas é visível um reforço policial e militar em vários bairros, ainda assim reduzido em comparação aos últimos dias.
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O candidato a presidente Venâncio Mondlane vem convocando a um novo período de manifestações nacionais em Moçambique, durante três dias, a partir de hoje, em todas as capitais provinciais, incluindo Maputo, contestando o processo eleitoral.
“Vamo-nos manifestar nas fronteiras, nos portos e nas capitais provinciais. Vamos paralisar todas as atividades para que percebam que o povo está cansado”, discursou na segunda (11) Mondlane, sobre o que ele chama de “quarta etapa” de contestação ao processo das eleições gerais de 9 de outubro.
Além das manifestações de rua, ele vem pedindo o alargamento dos protestos aos portos e às fronteiras do país, além dos corredores de transporte que ligam estas infraestruturas, apelando à adesão dos caminhoneiros: “Não obrigamos ninguém a aderir à manifestação. Passamos os valores da manifestação e quem quiser adere”.
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O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique, Bernardino Rafael, disse nesta terça (13) que é preciso dar um “basta” às manifestações e às paralisações, chamando os atos de “terrorismo urbano” com intenção de “alterar a ordem constitucional”.
“Urge dizer basta às manifestações violentas com tendência de sabotagem de grandes empreendimentos que o país conquistou durante a independência e que são a esperança da geração vindoura”, declarou o Bernardino Rafael.
Os empresários moçambicanos estimaram os prejuízos em 24,8 bilhões de meticais (cerca 354 milhões de euros) com os dez dias de paralisações e manifestações convocadas porVenâncio Mondlane. Ao todo, foram depredadas, segundo a polícia, 151 unidades empresariais.
“Com estas manifestações acompanhadas pelas paralisações da atividade econômica, constatamos que os setores de comércio, logística e transporte foram os mais afetados, sendo que as perdas totais e impacto no PIB [Produto Interno Bruto] totalizaram 24,8 bilhões de meticais [354 milhões de euros], que são cerca de 2,2% do nosso PIB”, declarou o presidente da Confederação das Associações Econômicas de Moçambique, Agostinho Vuma.
O Ministério Público moçambicano instaurou 208 processos-crime para responsabilizar os autores “morais e materiais” da violência nas manifestações pós-eleitorais, anunciou também na terça a Procuradoria-Geral da República, responsabilizando o candidato Venâncio Mondlane.
A PGR informa que, no “âmbito das suas competências constitucionais e legais”, o MP “tem estado a instaurar processos judiciais, visando a responsabilização criminal” dos autores “morais e materiais”, e “cúmplices destes atos”.
“Tendo sido desencadeados, até ao momento, 208 processos-crime, nos quais se investiga homicídios, ofensas corporais, danos, incitamento a desobediência coletiva, bem como a conjuração ou conspiração para prática de crime contra a segurança do Estado e alteração violenta do Estado de direito”, lê-se.
Moçambique, e sobretudo Maputo, a capital, viveram paralisações de atividades e manifestações convocadas desde 21 de outubro por Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, que dão vitória a Daniel Chapo e à Frente de Libertação de Moçambique, a Frelimo, partido no poder.
Com Lusa