Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, recebe proposta de Plano Nacional de Inteligência Artificial, elaborado por cientistas, durante a cerimônia de abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), em Brasília - DF. Foto: Ricardo Stuckert / PR
O plano de 4 bilhões de dólares do Brasil para a inteligência artificial
Brasil quer ter supercomputador e desenvolver modelos nacionais da tecnologia com proposta que faz frente a investimentos da União Europeia
07/08/2024 às 14:01
| 4 min de leitura
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O Brasil pretende investir R$ 23 bilhões —ou 4 bilhões de dólares— até 2028 no chamado Plano Brasileiro de Inteligência Artificial. Com o aporte, o país pretende desenvolver uma tecnologia capaz de criar modelos avançados de linguagem em português usando dados nacionais.
Segundo divulgou o governo no contexto da agenda do G20 —grupo que reúne as vinte maiores economias do mundo—, o anúncio do plano visa fortalecer a soberania e promover a liderança global do Brasil em inteligência artificial.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a proposta elaborada por especialistas brasileiros na semana passada, durante a abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília, evento que há 14 anos não se realizava.
Para Lula, o documento é um marco para o país. “O Brasil precisa aprender a voar. O Brasil não pode ficar dependendo a vida inteira. Nós somos grandes, nós temos inteligência, o que nós precisamos é ter ousadia de fazer as coisas acontecerem”, afirmou o presidente.
“No fundo, é a inteligência humana que pode aperfeiçoá-la [a inteligência artificial], porque nada mais é do que a gente ter capacidade de fazer a coletânea de todos os dados, e nós temos as big techs que fazem isso sem pedir licença, sem pagar imposto e ainda cobram dinheiro e ficam ricas por conta de divulgar coisas que não deveriam ser divulgadas”, acrescentou Lula.
O plano anunciado trata do futuro da inteligência artificial e das recomendações de novas políticas ligadas a essa tecnologia em diversas áreas como saúde, agricultura e meio ambiente.
“Transformar a vida dos brasileiros por meio de inovações sustentáveis e inclusivas baseadas em IA” está entre os objetivos principais do documento, bem como a formação, capacitação e requalificação dos trabalhadores da área para suprir a alta demanda por profissionais qualificados.
As recomendações do plano estão divididas em cinco eixos, com 54 ações concretas. Os cinco eixos são:
- infraestrutura e desenvolvimento de IA;
- difusão, formação e capacitação em IA;
- IA para melhoria dos serviços públicos;
- IA para inovação empresarial;
- e apoio ao processo regulatório e de governança da IA.
Uso ético
O documento foi aprovado na segunda (29) pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia após um processo participativo, com mais de 300 pessoas da iniciativa privada, especialistas, órgão de regulação e sociedade civil organizada.
A presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, disse que a IA também tem riscos, exige gestão responsável e pode aprofundar as desigualdades.
“A gente tem que ficar atento. Ele [o plano] aborda questões de equidade, de transparência, de privacidade de dados e proteção da propriedade intelectual. O uso ético da IA tem que ser a nossa prioridade”, disse.
Para a especialista, o potencial total da IA ainda está inexplorado e a tecnologia é capaz de melhorar a qualidade de vida, fomentar descobertas científicas e aumentar a produtividade da pesquisa em todas as áreas do conhecimento.
“São necessários esforços colaborativos para investir em infraestrutura de dados e treinar pessoal em IA.”
Fonte de recursos
De acordo com o governo, as fontes dos R$ 23,03 bilhões em investimentos para as ações previstas no Plano Brasileiro de Inteligência Artificial são diversas.
A principal (R$ 12,72 bilhões) vem de créditos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Há ainda recursos não-reembolsáveis do FNDCT (R$ 5,57 bilhões), do Orçamento da União (R$ 2,90 bilhões), do setor privado (R$ 1,06 bilhões), empresas estatais (R$ 430 milhões) e outros (R$ 360 milhões).
Para a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, o plano é robusto e viável. Segundo ela, os investimentos públicos do Brasil se equiparam aos da União Europeia —R$ 16 bilhões entre 2024 e 2027 para setores industriais e sociais.
“É claro que esses investimentos na União Europeia já vêm de antes, mas nós vamos chegar com força. Cada pessoa ou coisa conectada à internet produz dados, o Brasil tem muitos dados que são cobiçados pelas grandes big techs e nós vamos ter os nossos dados, que haverá de ter uma integração que não há hoje e com nuvem própria, soberana, brasileira, com linguagem brasileira. Soberania, autonomia para poder fazer valer a inteligência do nosso país”, afirmou.
O plano nacional sobre inteligência artificial foi encomendado pelo governo federal ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia em março. Na ocasião, o presidente Lula pediu aos conselheiros uma proposta com o objetivo de tornar o Brasil competitivo na área.
Desde 2021, o país possui uma Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial, que já vinha sendo revisada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
No mês passado, durante participação na Cúpula do G7 (reunião de líderes de sete das maiores economias do mundo), Lula também propôs a instituição de uma governança global e representativa para o tema da inteligência artificial, para que seus benefícios sejam compartilhados por todos e não apenas se concentrem nas mãos de um pequeno número de pessoas e de empresas.
Supercomputador
No eixo da infraestrutura, o plano prevê a atualização do supercomputador Santos Dummont do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis (RJ), para atender a demanda de pesquisas na área tanto por centros de pesquisa públicos como pela iniciativa privada.
Com isso, em cinco anos, ele deve estar entre os cinco computadores com maior capacidade de processamento do mundo, da lista dos top 500. Os investimentos na tecnologia devem ser de R$ 1,8 bilhão.
O Laboratório Nacional de Computação Científica foi fundado em 1980 como unidade de desenvolvimento tecnológico e como órgão governamental provedor de infraestrutura computacional de alto desempenho para a comunidade científica do país.
O supercomputador Santos Dummont foi instalado em 2015 e, recentemente, já foi objeto de contrato para aumento de capacidade. O nome é inspirado no famoso inventor e aviador brasileiro.
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