Serviço Nacional de Saúde divulgou orientações para o frio com a queda das temperaturas. Crédito: Carlos M. Almeida, Lusa

Serviço Nacional de Saúde divulgou orientações para o frio com a queda das temperaturas. Crédito: Carlos M. Almeida, Lusa

Os impactos do frio na saúde e no bolso dos imigrantes; SNS divulga recomendações

Falta de conforto térmico, doenças respiratórias e dificuldade de acesso a informações estão entre os principais obstáculos enfrentados por quem chega de países quentes

16/12/2024 às 08:00 | 5 min de leitura
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O inverno que avança sobre Portugal impõe desafios não só à saúde, mas também ao bolso dos imigrantes, expondo ainda a precariedade de moradias no país —muitas não oferecem o chamado conforto térmico que, em outras palavras, significa que são frias no inverno e quentes no verão. Assim, para ser estrangeiro por aqui também é preciso considerar que a conta da energia para calefação será alta, além de ser necessário investir em roupas mais quentes.  

Recentemente, o Serviço Nacional de Saúde, o SNS, divulgou orientações para prevenir doenças e acidentes típicos da estação mais fria, e algumas dicas são cuidados simples, mas fundamentais, especialmente para pessoas mais vulneráveis como crianças, idosos e pessoas de doenças respiratórias crônicas.

Luciana Gomides, goiana que mora no Porto, afirmou que mesmo tendo visitado Portugal em outras ocasiões, para ela o cotidiano gelado foi um choque. 

"A convivência diária, fora a rotina de trabalhar, fazer compras, apanhar metro, entre outras, torna tudo um pouco mais difícil. O que mais me surpreendeu foram as chuvas que, ao menos no ano que cheguei, duraram uma semana inteira."

Luciana Gomides conta que o convívio diário com o frio foi uma surpresa. Crédito: Arquivo pessoal.

O manauara Arthur Corrêa compartilha a dificuldade de ajustar-se à nova rotina: "Apesar de já ter viajado para lugares frios, nunca havia vivido uma rotina diária nesse clima — sair para trabalhar, pegar transporte público. O metrô fica mais cheio, com mais aglomeração de pessoas e acordar cedo para trabalhar se torna mais custoso".

Nesse contexto, o SNS reforçou a importância de proteger as extremidades do corpo e manter as habitações com temperatura controlada entre 19 e 22 graus Celsius. 

A mudança de temperatura exige mais atenção para evitar doenças respiratórias e circulatórias, especialmente entre crianças e idosos, que formam parte expressiva das famílias imigrantes. Para reduzir os riscos de doenças associadas com a estação como a gripe, o SNS recomenda a vacinação, especialmente para pessoas incluídas nos grupos de risco.

Além da gripe, o frio intenso pode agravar problemas respiratórios já existentes, como asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, conhecida como DPOC. Essas condições afetam as vias respiratórias e tornam aqueles que vivem com elas mais suscetíveis às complicações causadas pelo clima. 

Outro problema de saúde associado às baixas temperaturas é o aumento da pressão arterial. O frio provoca a vasoconstrição, que é o estreitamento dos vasos sanguíneos, o que pode sobrecarregar o coração e aumentar as chances de infarte em pessoas com problemas circulatórios pré-existentes.

Para reduzir os riscos associados ao frio, o SNS orienta a população a adotar medidas que garantam conforto térmico, boa alimentação e hidratação adequada

No que se refere à alimentação, é recomendado o consumo de alimentos ricos em nutrientes e vitaminas, que ajudam a fortalecer o sistema imunológico e a prevenir infecções típicas do inverno.

Roupas adequadas

O vestuário adequado é outra medida essencial para proteger o corpo do frio. Recomenda-se o uso de roupas compatíveis com a temperatura externa, com atenção especial às extremidades, como mãos, pés e cabeça, que são as áreas mais sensíveis à perda de calor. 

A orientação é vestir-se em camadas, como uma "cebola", o que permite a remoção ou adição de peças conforme a variação da temperatura.

Para a goiana Luciana, a adaptação ao vestuário é essencial e ela dá dicas aos recém-chegados: "Nem precisa trazer roupas do Brasil porque, honestamente, não servem. Quando chegar, é preciso buscar casacos impermeáveis, corta-vento, calças térmicas e meias grossas". 

O manaura Arthur, por sua vez, disse ser importante investir em peças adequadas, mesmo que sejam mais caras: "Itens como a segunda pele fazem toda a diferença no inverno". 

Arthur Corrêa viveu primeiro inverno em Portugal em 2023. Crédito: Arquivo pessoal.

O que é o comportamento preventivo?

Outra recomendação do SNS é adotar o "comportamento preventivo", que deve ser ajustado de acordo com a intensidade do frio

Para temperaturas abaixo de zero grau, a recomendação é evitar sair de casa e não se expor ao frio extremo. Quando a temperatura está entre zero e cinco graus, é preciso redobrar a atenção com o gelo nas ruas, que pode provocar quedas e lesões.

Se a temperatura estiver entre cinco e dez graus, é aconselhável consumir sopas e bebidas quentes, além de proteger as extremidades com luvas, cachecol e gorro. Já para temperaturas entre dez e quinze graus, o SNS reforça a necessidade de se agasalhar e manter a hidratação adequada.

No ambiente doméstico, o SNS recomenda medidas que garantam um aquecimento seguro e eficiente. A temperatura ideal dentro de casa deve ser entre dezenove e 22 graus. 

Para isso, é fundamental assegurar o bom funcionamento de sistemas de aquecimento e evitar a proximidade excessiva de fontes de calor, como aquecedores, para prevenir queimaduras e desidratação. 

Além disso, a ventilação do ambiente é indispensável. Abrir as janelas periodicamente facilita a circulação do ar e melhora a sua qualidade.

Outras orientações incluem o uso de calçado antiderrapante, que ajuda a prevenir quedas em superfícies escorregadias. Recomenda-se ainda a prática de atividades físicas leves, que contribuem para a manutenção do calor corporal. 

O SNS também alerta sobre os riscos do consumo de bebidas alcoólicas no frio. Embora o álcool possa causar uma sensação momentânea de calor, ele provoca a dilatação dos vasos sanguíneos, resultando na perda de calor corporal.

Saúde e adaptação

Além de enfrentar as baixas temperaturas, muitos imigrantes relatam dificuldades em evitar os problemas de saúde típicos do inverno. 

Desde que se mudou para Portugal, Luciana disse que as gripes anuais fazem parte da sua realidade: "Sempre pego uma gripe, tenho coriza e alguma tosse. Achei remédios bons e tomo meus chás." 

Arthur contou que nessa época do ano sente mais necessidade de prevenção: "Sempre tomo a vacina contra a gripe, o que considero essencial para prevenir qualquer complicação nesse período."

Um dos maiores desafios para os imigrantes é adaptar as moradias ao frio. Luciana afirmou que teve sorte ao alugar um quarto em residência estudantil com bom aquecimento, o que ela considera que não é a realidade da maioria das pessoas que chega. 

Arthur também descreveu dificuldades, sobretudo no impacto no bolso de ter que usar aquecedor durante o inverno. 

"As casas em Portugal não são bem preparadas para o inverno, então uso aquecedores elétricos, o que aumenta bastante a conta de energia. Tento economizar, ligando o aquecedor apenas para aquecer o quarto antes de dormir ou ao sair do banho."

Linha de apoio do SNS

Para os imigrantes que vivem em Portugal, ter acesso a informações de saúde pode ser difícil, especialmente se a barreira linguística dificultar a compreensão das orientações. O SNS 24 (808 24 24 24) é uma linha de apoio que permite a todos, independentemente do seu estatuto de residência, obter informações sobre sintomas e cuidados de saúde. 

Em situações mais graves, o contato deve ser feito pelo 112, o número de emergência. Além das orientações de saúde, o SNS recomenda que as pessoas verifiquem as condições de suas moradias e garantam um sistema de aquecimento eficiente. 

Tanto Luciana quanto Arthur, porém, apontaram falhas na comunicação das autoridades de saúde sobre cuidados específicos para o inverno. 

"No meu ponto de vista, os sites e redes sociais das autoridades de saúde são bem fracos", comentou ela. 

O manauara acrescentou: "A vacina contra a gripe não recebe a atenção necessária, e não há um grande incentivo por parte do governo. Tive que pagar pela vacina na farmácia, e não sei se ela é oferecida gratuitamente pelo SNS".

Como conselhos para os recém-chegados, Luciana sugeriu foco na preparação prática: "Quando chegar, buscar casacos impermeáveis e corta-vento, calça térmica, meias mais grossas e ir atrás de aquecedores." 

E Arthur complementou: "Não subestime o frio e se proteja bem. Use várias camadas de roupa e aproveite cada estação, adaptando-se às demandas específicas de cada uma." 

Troca ou doação de agasalhos

Para muitos imigrantes, o custo de roupas de frio e o ajuste da habitação podem ser um obstáculo. A Casa do Brasil de Lisboa dispõe de uma arara em sua sede para que a população possa trocar ou doar agasalhos para o período de frio, sem custos.

Além dessa, Nilzete Pacheco, da Associação Lusofonia, afirmou que a iniciativa dispõe de uma loja social em seu prédio. No local, a população pode comprar peças que variam de cinquenta cêntimos a dez euros. 

A loja social se mantém através de doações de roupas que vêm dos bombeiros e das forças policiais, tendo os brasileiros e imigrantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, os Palop, como os principais consumidores. 

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