José Maria Neves em Portugal, durante celebração dos 50 anos do 25 de Abril (Arquivo). Crédito: André Kosters, Agência Lusa
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Presidente de Cabo Verde: 'Colonialismo vem da ideia da supremacia branca'
Em entrevista exclusiva à BRASIL JÁ, o presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, fez comentários sobre a reparação colonial, racismo e manifestou preocupação com o crescimento da extrema direita
A fala calma e pausada evidencia uma intimidade com a didática —e também com o poder. Aos 64 anos, José Maria Neves acumula décadas de experiência na política cabo-verdiana. Em 2021, o professor universitário fora, pela primeira vez, credenciado pelo voto popular para ocupar a Presidência da República do país —cargo que deve ocupar até 2026, com possibilidade de uma única reeleição.
Antes, Neves foi primeiro-ministro de Cabo Verde por três mandatos (entre 2001 e 2016), e algumas de suas conquistas como chefe do Executivo são lembradas no currículo disponível na página institucional da presidência: triplicar o PIB (Produto Interno Bruto) no período como primeiro-ministro e tirar Cabo Verde da lista de países menos avançados da Organização das Nações Unidas (ONU) são duas delas.
“Os cabo-verdianos só deixaram de morrer de fome a partir da década de 1950 do século 21, quando se criou as Nações Unidas e a comunidade internacional estava mais atenta aos fenômenos do colonialismo. Antes, os cabo-verdianos morriam de fome”, afirmou o presidente em entrevista exclusiva à BRASIL JÁ, realizada no dia 16 do mês passado.
A conversa de uma hora com o chefe do Governo orbitou sobre um tema que, recentemente, motivou debates inflamados em Portugal e unificou a pauta em países que foram colônias portuguesas —assim como o Brasil, Cabo Verde também foi dominado pelos portugueses por 515 anos, exploração que só cessou no arquipélago há 49 anos.
O assunto que apavora parte do país europeu é a reparação pelo período de exploração, uma discussão que o presidente cabo-verdiano considera inevitável, mas, ao mesmo tempo, não acredita que agora deva ser trazida à praça pública.
“Algum dia essas questões vão ser debatidas. Neste momento, considero que não há condições políticas para se discutir publicamente essas questões. Mas entre os governos deve-se dialogar sobre essas matérias. Por exemplo, há documentos, há patrimônios dos diferentes países que foram levados para a antiga potência colonizadora”, disse Neves.
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