Domingos Brazão foi preso neste domingo por, segundo a PF, mandar matar Marielle Franco Crédito: TCE

Domingos Brazão foi preso neste domingo por, segundo a PF, mandar matar Marielle Franco Crédito: TCE

Quem é Domingos Brazão, suspeito de mandar matar Marielle Franco

Líder da família Brazão é envolvido em suspeitas de corrupção, fraude, improbidade administrativa, compra de votos e homicídio —mas não apenas isso

24/03/2024 às 16:03 | 3 min de leitura
Publicidade Banner do empreendimento - Maraey

O ex-policial militar Ronnie Lessa, no seu acordo de delação premiada, apontou três pessoas como mandantes do assassinato vereadora Marielle Franco. O crime ocorreu em 14 de março de 2018. Na mesma ação, foi morto o motorista de Marielle, Anderson Gomes.

Um dos apontados como autor intelectual do assassinato foi o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), Domingos Brazão, preso neste domingo (24) em uma operação da Polícia Federal. 

Durante 25 anos de vida pública, Brazão coleciona envolvimento em suspeitas de corrupção, improbidade administrativa, compra de votos e homicídio.

Apesar do histórico, Brazão sempre negou envolvimento no assassinato de Marielle.

De vendedor de carro a dono de postos

A história de Brazão na política e com o submundo fluminense —que nunca negou conhecer— começou como vendedor de carro e, ao longo da vida, passou a ser dono de quase duas dezenas de postos de gasolina.

Depois, fez da zona oeste do Rio de Janeiro seu reduto eleitoral, ao entrar para a vida política.

MARIELLE: PF prende acusados de mandar matar vereadora

A região é tomada por grupos paramilitares conhecidos como milícias —gente ligada à polícia, ao corpo de bombeiros e políticos do Rio de Janeiro que, com a desculpa de proteger a população do narcotráfico, aterroriza moradores e comerciantes. 

Os milicianos cobram mensalidades de pessoas pobres e controlam a ocupação de terrenos, alguns em áreas de proteção ambiental, para a construção irregular de imóveis.

Máfia dos combustíveis e compra de votos

Em 2004, uma gravação indicara a relação de Brazão e do ex-deputado Alessandro Calazans com a chamada máfia dos combustíveis. 

O caso envolvia licenças ambientais de um órgão da administração local para funcionamento de postos de gasolina, um negócio que, segundo investigadores da polícia, é ótimo para se lavar dinheir pela facilidade de fazer transações em dinheiro vivo.

Em 2011, Domingos Brazão chegou a ter o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro por compra de votos por meio do Centro de Ação Social Gente Solidária, uma ONG vinculada ao deputado e onde ocorria, segundo denúncia do Ministério Público, prática de assistencialismo.

Ele voltou ao cargo após conseguir uma liminar na instância superior da Justiça Eleitoral.

Em 2014, a então deputada estadual Cidinha Campos, hoje radialista, processou Domingos Brazão, na época deputado, por ameaça. Durante uma discussão na Assembleia Legislativa, Brazão disse que “já matou vagabundo, mas vagabunda ainda não”, no que foi entendido como uma ameaça à Cidinha.

A fala dele fazia referência ao homicídio em que esteve envolvido ainda jovem.

Brazão disse que não conhecia Marielle pessoalmente

Domingos Brazão afirmou a este repórter, na ocasião da briga com Cidinha Campos, que de fato havia matado um homem, “um bandido”, que invadiu a sua casa e que, antes da entrar à força no imóvel, fazia ameaças a ele e à sua família. 

“Matei. Eu era jovem e foi em legítima defesa. A própria Justiça concordou comigo”, disse à época.

Ainda em 2019, surgiram as primeiras associações da família Brazão ao assassinato de Marielle Franco. Naquele ano, um relatório da Polícia Federal apontou Domingos Brazão como o “principal suspeito de ser autor intelectual” dos assassinatos da vereadora e do motorista.

A este repórter, na época, ele negou participação no caso. Afirmou sequer conhecê-la pessoalmente —embora ele, na condição de deputado, e ela, como assessora parlamentar de outro deputado, frequentassem na mesma época a Assembleia Legislativa.

No mesmo ano, ele chegou a ser denunciado pela então procuradora-geral da República Raquel Dodge por atrapalhar a investigação, mas a Justiça do Rio de Janeiro rejeitou o pedido da PGR.

Seu nome passou ser analisado novamente após a delação do também ex-PM Élcio de Queiroz, preso em 2018, suspeito de envolvimento no crime.

Um caçula na cabeça da família

Domingos Brazão é o líder da família, embora seja o mais novo dos irmãos.

Assumiu a liderança por ser considerado o mais articulado e “bruto” deles. Ao mesmo tempo, na política é conhecido por aliados e adversários por cumprir acordos, bastando, para isso, um aperto de mão.

Sua carreira política começou como assessor na Câmara Municipal do Rio de Janeiro em 1993.

Em 1997, foi eleito vereador e ficou dois anos no cargo, porque logo foi venceu as eleições para deputado estadual. Ficou no Legislativo por dezessete anos.

Ele chegou a sonhar em ser presidente da Assembleia Legislativa, mas foi convencido por Eduardo Cunha —conhecido por ser o algoz do impeachment de Dilma Rousseff— a assumir a vaga no Tribunal de Contas. 

No tribunal, entretanto, não viveu um mar de rosas. Foi afastado por seis anos após a operação Quinto do Ouro, no âmbito da Lava Jato no estado, quando ele e mais quatro integrantes da corte foram presos acusados de corrupção.

Jornalismo verdadeiramente brasileiro dedicado aos brasileiros mundo afora


Os assinantes e os leitores da BRASIL JÁ são a força que mantém vivo o único veículo brasileiro de jornalismo profissional na Europa, feito por brasileiros para brasileiros e demais falantes de língua portuguesa.


Em tempos de desinformação e crescimento da xenofobia no continente europeu, a BRASIL JÁ se mantém firme, contribuindo para as democracias, o fortalecimento dos direitos humanos e para a promoção da diversidade cultural e de opinião.


Seja você um financiador do nosso trabalho. Assine a BRASIL JÁ.


Ao apoiar a BRASIL JÁ, você contribui para que vozes silenciadas sejam ouvidas, imigrantes tenham acesso pleno à cidadania e diferentes visões de mundo sejam evidenciadas.


Além disso, o assinante da BRASIL JÁ recebe a revista todo mês no conforto de sua casa em Portugal, tem acesso a conteúdos exclusivos no site e convites para eventos, além de outros mimos e presentes.


A entrega da edição impressa é exclusiva para moradas em Portugal, mas o conteúdo digital está disponível em todo o mundo e em língua portuguesa.


Apoie a BRASIL JÁ

Últimas Postagens