Manifestantes vão às ruas contra violência do Estado Crédito: Stefani Costa, BRASIL JÁ

Manifestantes vão às ruas contra violência do Estado Crédito: Stefani Costa, BRASIL JÁ

Manifestação pede justiça por Cláudia Simões e vítimas de violência policial

Organizações antirracistas lembraram morte jovens em estabelecimento prisional

16/09/2024 às 10:16 | 3 min de leitura
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Manifestantes de movimentos antirracistas saíram às ruas neste sábado (14) para pedir justiça para as vítimas de violência policial em Portugal. O protesto "E se Fosse Contigo" iniciou à tarde, em frente ao Estabelecimento Prisional de Lisboa, e seguiu até a praça Martim Moniz.

Casos de violência policial foram lembrados durante a manifestação e os apoiadores reivindicavam a revogação da sentença de Cláudia Simões, mulher negra agredida por um agente da Polícia de Segurança Pública. 

Em julho último, Cláudia foi condenada, com pena de prisão suspensa, por ter mordido a mão do policial enquanto o policial estava em cima dela. 

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O ato em Lisboa também marcou o terceiro ano das mortes dos jovens Danijoy Pontes, de 23 anos, e Daniel Rodrigues, de 37 anos. Eles morreram no dia 15 de setembro de 2021, com minutos de diferença, dentro da penitenciária. 

Segundo os familiares, até hoje a justiça não apresentou as reais causas da morte dos dois.

À BRASIL JÁ , Claudia Simões, que participou do protesto, disse que não deixará o caso ser esquecido para que não se repita com outras pessoas e que lutará até o fim para que os culpados sejam punidos.

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"Espero que ninguém se esqueça de como eu fiquei depois de ser agredida por um policial. Vou lutar até o fim, pois eu não acordei de um sonho em que fui agredida. Isso aconteceu e me causou muitas sequelas. Eu não posso deixar que as pessoas se esqueçam do meu caso para que isso não aconteça com mais ninguém. Eu só não perdi a minha vida porque eu sou forte."

Emocionada, Alice dos Santos, mãe de Danijoy Pontes, afirmou que a alegação de morte por causas naturais de seu filho não é verdadeira. 

"Como é que dois presos, que estavam sob a responsabilidade do Estado, morrem por uma diferença de minutos, de morte natural e com o mesmo tipo de medicamento no organismo? Meu filho não era usuário de nenhum tipo de droga", desabafou.

Alice disse, ainda, que seu filho pediu diversas vezes para que ela o tirasse do local, porque era espancado e torturado pelos agentes penitenciários.

"Eu tentei falar com as assistentes sociais que acompanhavam o caso, mas uma estava grávida na época e a outra nunca respondeu a minha chamada. Só me ligou no dia seguinte para informar que ele havia falecido. Disseram que o meu filho tinha epilepsia, o que é mentira."

A jornalista Paula Cardoso, fundadora do Afro-Link e que colabora com a BRASIL JÁ, afirmou haver retrocesso nas demandas antirracistas nos país.

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"A violência policial não é novidade e nunca foi. Acrescentar o racismo a esses episódios chega a ser redundante, porque esse tipo de violência é, por definição, racista. Se o vídeo que mostra a agressão que a Cláudia Simões sofreu não tivesse vindo a público, acredito que nem sequer teríamos tido um julgamento", afirmou.

Para a ativista da União Negra das Artes, Ana Fernandes, a participação popular é importante contra o racismo institucional. Ela disse que a falta de respostas contribui para o aumento de injustiças contra imigrantes e pessoas racializadas.

“A Cláudia Simões é uma vítima que foi transformada em ré. Estamos indignados porque as nossas vidas importam. A nossa capacidade de nos organizar e nos fazer ouvir é fundamental para mostrar que não aceitamos isso e que é preciso dar um basta na violência para dar continuidade às nossas vidas sem racismo e xenofobia."

José Falcão, dirigente da SOS Racismo, afirmou que à reportagem que este é o terceiro ano que as mães de Danijoy e Daniel vão ao local para homenagear os filhos com coroas de flores em busca de respostas sobre a morte dos dois jovens.

"Não existe justiça para uma parte da população, pois, infelizmente, este país é institucionalmente e estruturalmente racista, ao contrário do que querem fazer crer. O 25 de Abril nunca chegou à Justiça", reclamou. 

Falcão lembrou que no caso de Cláudia Simões a juíza decidiu condenar a vítima em vez do agressor. "É a prova de que o racismo tem cor."

Marcha foi até a Praça Martim Moniz Crédito: Stefani Costa, BRASIL JÁ

Para Flávio Almada, do movimento Vida Justa, a violência policial não afeta apenas a vida de Cláudia Simões ou dos familiares dos dois mortos na prisão. Segundo ele, essa situação é epidêmica e atinge grande parte da periferia do país.

"É uma construção ideológica que tenta justificar toda essa brutalidade contra pessoas negras. Tem a ver com o crescimento da própria extrema direita e do governo que está mandando claramente uma mensagem de que precisa da polícia para reprimir e criminalizar a classe trabalhadora, os imigrantes e todas as pessoas racializadas", disse.

Segundo Almada, naturalizar a violência contra uma "mulher negra, da classe trabalhadora, que estava acompanhada por uma criança, é perigoso porque abre precedente para que outros casos aconteçam". 

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