17/08/2024 às 15:39
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Morto neste sábado (17), Silvio Santos foi dos mais inventivos empresários do Brasil, mas foi como comunicador que ele se tornou conhecido e conquistou o coração dos brasileiros. Entre as empresas que deixa para seus herdeiros, estão a emissora de televisão SBT e a empresa de cosméticos Jequiti.
Silvio Santos nasceu no Rio de Janeiro, em 1930, como Senor Abravanel, filho de imigrantes judeus de origem turca e grega. Ainda adolescente, se tornou camelô pelas ruas da capital fluminense, inspirado em um comerciante de rua português que ele conheceu.
O empresário já foi dono do banco Panamericano, comprado pelo BTG Pactual no início da década.
Em 1989, com mais de 60 anos de carreira em frente às câmeras, o apresentador foi pré-candidato a Presidência da República, na que era a primeira eleição direta do Brasil desde o golpe militar de 1964.
Sua candidatura, porém, foi impedida pelo Tribunal Superior Eleitoral porque ele se filiou a um partido irregular. Silvio Santos era líder nas pesquisas.
Como começou?
A história do Silvio Santos começa com ele ganhando a vida como camelô, mas a sua voz logo abriu portas como locutor, inicialmente pelos alto-falantes das bancas que faziam a travessia entre Rio de Janeiro e Niterói.
A experiência o levaria para rádios e, depois, para tevê.
Em 1958, ele comprou o Baú da Felicidade, do radialista Manoel de Nóbrega. Na empresa, o cliente pagava carnês mensais e, em dezembro, recebia uma caixa de brinquedos. Era o início do que seria o Grupo Silvio Santos.
Ele manteve o sistema de carnês do Baú, mas expandiu o negócio: criou lojas próprias onde o cliente podia trocar o valor pago por, além dos brinquedos, eletrodomésticos.
A primeira aparição como apresentador de tevê ocorreu em 1961, na TV Paulista. À frente do game Vamos Brincar de Forca, ele aproveitava o espaço para divulgar o Baú da Felicidade.
O sucesso fez com que ele expandisse ainda mais o leque de produtos ofertados ao consumidor —carros e casas entraram no catálogo do Baú. Para dar conta de tudo, comprou alguns empreendimentos, como concessionária e construtora.
Para aplicar o dinheiro adquirido com os carnês, criou o Baú Financeira —embrião do banco PanAmericano. Depois, ele incrementou ao braço financeiro do grupo a Liderança da Capitalização, que é a responsável por comercializar a Tele Sena.
Na televisão, o apresentador chegou a apresentar suas atrações na TV Globo, mas nunca foi acionista da emissora. Ele também teve passagens pela TV Tupi e Record TV, canal de quem foi sócio, chegando a deter 50% das ações da emissora de São Paulo.
O SBT
A maior de suas realizações, segundo ele mesmo declarou em vários momentos, foi a emissora de tevê, o Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, que fundou em 1981. O canal se tornou a terceira maior rede de tevê brasileira. O canal se tornou a principal fonte de riqueza de Silvio Santos.
Em 2006, ele criou a Jequiti, empresa de cosméticos. Já em 2007, foi a vez de o Grupo Silvio Santos lançar o hotel Sofitel Jequitimar Guarujá, com apartamentos de alto padrão, vendidos por valores milionários.
O grande susto financeiro ocorreu após se descobrir o rombo de mais de 4 bilhões de reais (cerca de 727 milhões de euros) no banco PanAmericano. Ele chegou a ser investigado pela Polícia Federal.
O banco BTG Pactual comprou a instituição financeira, mas não as dívidas. Embora tenha cogitado vender tudo para resolver o problema, Silvio Santos se empenhou e colocou algumas de suas trinta empresas como garantia de empréstimos para cobrir o rombo.
Fortuna
A estratégia de recuperação do rombo do PanAmericano deu certo, ao menos parcialmente. Entre 2009 e 2010, se concluiu o pagamento de 740 milhões de reais (134 milhões de euros) pela Caixa Econômica Federal, um banco público, de 35% do PanAmericano.
Mesmo sendo uma das figuras mais ricas do Brasil, Silvio Santos acabou perdendo um patrimônio considerável depois da venda do banco e a cobertura do rombo financeiro.
Em 2013, ele tinha uma fortuna de 2,67 bilhões de reais (cerca de 484 milhões de euros). Em 2020, essa fortuna foi reduzida para 1,9 bilhão de reais (aproximadamente 345 milhões de euros).
Vida pessoal
Silvio Santos foi casado com Maria Aparecida Vieira Abravanel entre os anos de 1962 e 1977. Com ela, ele teve duas filhas. Neste ano sua esposa acabou falecendo, e, em 1978, ele se casou com Íris Abravanel. Com ela, teve outras quatro filhas.
No ano de 1983, cerca de 2 anos após o início do SBT, Silvio Santos entrou para o Guinness Book, o livro dos recordes. A categoria premiada foi a de “o programa mais duradouro da televisão brasileira”.
Silvio Santos coleciona prêmios tanto como apresentador de tevê, como empresário. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, ganhou em 2000 e em 2009 o prêmio de Melhor Líder Empresarial Setorial.
No Troféu Imprensa, ganhou prêmios como “Melhor Animador” entre 1964 e 1971 e de 1975 a 2017.
No Troféu Internet teve o mesmo reconhecimento dos anos de 2001 a 2017.
Já no Troféu Roquette Pinto, alcançou prêmios como Melhor Locutor Comercial (1960), Melhor Apresentador (1961 a 1968) e personalidade artística (1969).
Além disso, diversos outros prêmios e homenagens já foram oferecidas a Silvio ao longo de sua carreira. Ele é reconhecido como radialista, comunicador e animador de tevê, além de uma personalidade fortemente citada no meio empresarial.
Política
Silvio Santos não tinha filiação partidária ou uma clara simpatia ideológica. Gostava de dizer que era o único dono de tevê que gostava realmente de tevê.
Situação rara na indústria do entretenimento, ele foi por quase 50 anos apresentador e proprietário de sua emissora de televisão.
Sócio majoritário de mais de 30 empresas, dizia não saber nem o endereço de algumas delas.
Mais do que um pseudônimo para Senor Abravanel, Silvio Santos deu vida a um personagem com uma mitologia própria, lapidada com carinho ao longo de décadas.
Uma dessas histórias é a crítica de que ele bajulou todos os presidentes com a sua emissora, de Emílio Garrastazu Médici, do período ditatorial brasileiro, a Jair Bolsonaro, mantendo sempre a sua televisão em modo de alheamento político.
Por conta disso, o SBT sempre teve muita dificuldade de desenvolver seu jornalismo, uma imposição legal para tevês. O resultado é que, no Brasil, a morte do apresentador foi anunciada de maneira melhor pela Globo, emissora concorrente, que pela sua própria emissora.
Nos anos Bolsonaro, ele mostrou especial entusiasmo. Um de seus genros, o político Fabio Faria, foi ministro das Comunicações no governo do ex-presidente.
Suas muitas versões
A própria história de como Silvio deu os primeiros passos na vida é objeto das mais variadas versões, contadas por ele mesmo.
Ele foi camelô aos 14 anos, vendendo capinhas para título de eleitor e canetas, mas nunca ficou claro se fez isso por exigência familiar ou desejo precoce de independência.
Também parece folclórica a história que sempre contou a respeito do fiscal da prefeitura que, em vez de reprimir o camelô, encantou-se por sua voz e o levou —ou indicou— para um teste radiofônico, onde tudo começou.
Não menos repleta de versões é a história de como, já em São Paulo, em meados da década de 1950, adquiriu o Baú da Felicidade, um negócio que então andava mal das pernas e, com a sua dedicação, se tornaria um sucesso extraordinário.
Fato é que sua trajetória sublinha, sempre, os feitos de um sujeito com enorme faro para o comércio e gigantesco talento para a comunicação. Combinando ambos os predicados, foi vender os seus produtos na televisão. E nunca pretendeu ser algo diferente disso —um comerciante na tevê.
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