Daniel Chapo tomou posse na Praça da Independência, em Maputo, como o quinto presidente de Moçambique. Crédito: EPA/LUISA NHANTUMBO

Daniel Chapo tomou posse na Praça da Independência, em Maputo, como o quinto presidente de Moçambique. Crédito: EPA/LUISA NHANTUMBO

Tensão e morte em Moçambique um dia após a posse de Daniel Chapo

Cerimônia que oficializou Chapo no cargo foi marcada por segurança reforçada, protestos e mensagens de solidariedade internacional

16/01/2025 às 16:47 | 4 min de leitura | Africanidades
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A situação em Moçambique segue tensa e somando casos de violência um dia após a posse de Daniel Chapo como quinto presidente do país, na quarta (15). Na madrugada desta quinta (16), um delegado do partido Podemos foi assassinado com três tiros: um na cabeça, um no peito e outro nas costas. 

A vítima foi identificada como sendo Sandes António, de 30 anos, encontrado morto em casa. A princípio, informações da própria legenda que ele representava indicam que se tratou de um crime com mais de um executor, um grupo de desconhecidos. 

O porta-voz da Polícia da República de Moçambique na província de Sofala, Dércio Chacate, afirmou à imprensa que já uma investigação aberta sobre o caso e que agentes apuravam informações no local do crime. 

Foi o terceiro assassinato de membro do Podemos desde que parte da população se insurgiu contra os resultados das eleições gerais, em 9 de outubro último. Desde então, morreram 310 pessoas e outras seiscentas foram baleadas, segundo dados da plataforma eleitoral Decide. 

Contexto político

O Podemos é um partido que faz oposição ao governo eleito de Chapo, que é da sigla Frelimo, que está no poder desde a independência moçambicana. Como resultado do pleito, o Podemos passou a ser o principal opositor à Frelimo na Assembleia da República, com 43 deputados. 

Durante a campanha, o Podemos apoiou a candidatura de Venância Mondlane, que não reconheceu o resultado e que afirmou que irá até as últimas consequências para reverter a suposta fraude nas urnas. 

Podemos e Mondlane, entretanto, romperam depois que o partido decidiu que iria reconhecer o resultado que fez da sigla o principal partido de oposição. Outros partidos de oposição como a Resistência Nacional Moçambicana, a Renamo, e o Movimento Democrático de Moçambique seguem rejeitando que Daniel Chapo tenha sido eleito de forma limpa.  

Posse tensa

A posse de Daniel Chapo, na quarta (15), foi envolta de tensão. A cerimônia ocorreu na Praça da Independência, no centro de Maputo. Estiveram no local cerca de 2 500 convidados, reunindo líderes africanos e representantes de países aliados.

Entre os presentes, os presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló. 

O novo presidente foi declarado vencedor com 65,17% dos votos, resultado que o principal opositor a ele, Venâncio Mondlane, rejeita veementemente

Mondlane, que obteve 24% dos votos segundo o Conselho Constitucional, alega fraude no pleito e mobilizou uma série de manifestações em todo o país desde então, exigindo o que chama de “reposição da verdade eleitoral”.

Mondlane retornou a Moçambique depois de dois meses longe do país. Crédito: EPA

Tensão nas ruas e confrontos com a polícia

Durante a cerimônia de posse, novos confrontos ocorreram nas proximidades da Praça da Independência. Manifestantes pró-Mondlane, empunhando bandeiras de Moçambique e cartazes de apoio ao opositor, foram dispersados e reprimidos pela polícia.

MAIS: Moçambique: conflitos políticos e fúria da natureza

Os agentes de segurança apartaram os manifestantes a tiros de metralhadora e gás lacrimogêneo, o que gerou momentos de caos, com grupos de jovens reorganizando os protestos em diferentes pontos da capital. 

Na zona do Bairro Luís Cabral, pneus foram incendiados para bloquear vias, obrigando a intervenção da Unidade de Intervenção Rápida. Apesar das críticas ao ambiente repressivo, os manifestantes mantiveram suas reivindicações, entoando cânticos como “Salve Moçambique” e o hino nacional. 

Manifestações marcaram a posse de Chapo. Crédito: EPA/ESTEVAO CHAVISSO

A participação de Brasil e Portugal: laços históricos e culturais

A cerimônia contou com a presença de representantes diplomáticos de países historicamente ligados a Moçambique pela língua e pela cultura. O Brasil esteve representado na cerimônia pelo embaixador Ademar Seabra da Cruz Junior, que atua como diplomata no país africano. 

Moçambique compartilha relações diplomáticas com o Brasil desde a independência do país africano, em 1975. Atualmente, ambos são Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a CPLP

A ausência do presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, foi duramente criticada pelo ex-porta-voz da Frelimo, Caifadine Manasse, que classificou a decisão como precipitada. 

Segundo Manasse, isso sinaliza um afastamento de Portugal nos momentos difíceis enfrentados por Moçambique. Para ele, “o povo moçambicano está consciente de que Portugal não vai estar presente nos momentos mais difíceis”.

Venâncio Mondlane também fez críticas à postura portuguesa. Num vídeo divulgado em suas redes sociais, ele acusou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, de parcialidade e manipulação.

“O senhor sempre foi parcial, foi tendo posições totalmente tristes, sempre foi de adjetivos contra a minha pessoa”, declarou Mondlane, expressando insatisfação com o papel desempenhado por Portugal na mediação do conflito.

Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, representou Portugal na posse de Chapo. Crédito:

Apesar das críticas, Paulo Rangel, que representou Portugal na cerimônia, lembrou os laços históricos entre os dois países e transmitiu uma mensagem de esperança de Marcelo Rebelo de Sousa. 

“Moçambique tem muitos jovens que merecem um futuro. É importante assistir a este momento de construção”, afirmou Rangel, acrescentando que o desenvolvimento de Moçambique é também benéfico para Portugal.

O futuro para Chapo na presidência

Daniel Chapo assume a presidência em um momento crítico para Moçambique. Jovem e com formação em Direito pela Universidade Eduardo Mondlane, Chapo carrega a expectativa, segundo alguns analistas políticos, de unir um país profundamente dividido

Com uma trajetória que inclui posições como administrador distrital e governador provincial, ele prometeu durante sua campanha trabalhar pela prosperidade econômica e pacificação social.

A cerimônia de posse, marcada por simbolismo e segurança reforçada, contou com 21 salvas de canhão, apresentações culturais e a entrega dos símbolos de poder pelo presidente anterior, Filipe Nyusi. 

As celebrações dividem espaço com as demandas populares por justiça, transparência e inclusão social.

*Com informações de Agência Lusa e RTP

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