Em 1999, um menino subiu ao palco do Globo de Ouro em Los Angeles para, ao lado do diretor Walter Salles e da atriz Fernanda Montenegro, receber a premiação internacional com um filme que consagrou no mundo o cinema brasileiro: "Central do Brasil".
Aquele menino era Vinícius de Oliveira, hoje com 39 anos. Um quarto de século depois, Vinícius vibra com mais uma vitória brasileira na disputada distinção. Nesta segunda (6), ele falou com à BRASIL JÁ sobre a premiação de Fernanda Torres:
“Fernanda Torres ganhar esse prêmio [de Melhor Atriz em Filme de Drama] é não só um reconhecimento pelo seu belíssimo trabalho no filme. Também é um reconhecimento tardio dos talentos brasileiros e da nossa cinematografia em Hollywood. Só 25 anos depois voltarmos a ganhar um prêmio desse por lá. É um hiato grande demais, dada a qualidade do nosso cinema”
Na noite deste domingo (5), Fernanda Torres, filha de Fernanda Montenegro, ergueu o Globo de Ouro numa categoria que, 25 anos antes, sua mãe acabou perdendo. A atriz levou o prêmio pela atuação em "Ainda Estou Aqui".
Entretanto, naquele distante ano de 1999, Oliveira e a equipe de "Central do Brasil" venceram a categoria de Melhor Filme Internacional, também uma distinção memorável.
No longa, Vinicius Oliveira interpretou Josué, papel que conquistou depois de ser convidado por Walter Salles para fazer um teste para o personagem. O encontro com o diretor foi por caso, num aeroporto do Rio de Janeiro.
Até então, Vinícius morava no complexo de favelas da Maré, na Zona Norte da cidade, e sonhava que jogaria futebol. A arte, porém, o guiou para outro caminho.
Carreira
O ator vai estar nos cinemas nos longas “Os Quatro da Candelária”, “Leite em Pó” e “Rio de Sangue”. No streaming, atuará na série “Tremembé” do PrimeVideo. Todas as produções têm estreias previstas para este ano. À reportagem, o ator e diretor afirmou ser necessário mais investimento no setor para que mais produções consigam ganhar os mercados internacionais:
“Que possamos seguir com um olhar mais generoso dos votantes [das premiações internacionais] para o cinema brasileiro. E que tenhamos boa vontade e investimento em campanhas de filmes com potencial para chegar nesses prêmios. Estamos em estado de euforia máxima com essa premiação para a Fernanda! Viva o nosso cinema!”
'Central do Brasil' e a ida ao Globo de Ouro
“Central do Brasil” conta a história da professora Dora, interpretada por Fernanda Montenegro, e do menino Josué (Vinícius de Oliveira). Dora ganhava a vida escrevendo cartas para clientes analfabetos na estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro.
Cartas, porém, que ela não enviava.
Um dia, Josué perdeu a mãe atropelada, ficando sozinho numa hostil cidade grande. É quando seu destino cruza com o de Dora na principal estação ferroviária do Rio de Janeiro.
O menino cobra de Dora uma carta que sua mãe tinha ditado.
Depois de discutirem, Dora, então, resolve levar o menino ao encontro do pai, que Josué nunca conhecera, e que morava em uma cidade do interior de Pernambuco. A partir daí, a história tem desdobramentos que emocionaram públicos em todo o mundo.
“Central do Brasil” foi um sucesso com reconhecimento internacional.
Vinícius de Oliveira disse à BRASIL JÁ que, sendo uma criança à época da premiação, lembra mais da emoção de estar ao lado de grandes estrelas de Hollywood.
“Quando ['Central do Brasil] ganhou, foi como a Fernanda Torres ao ouvir seu nome como vencedora: foi um susto e uma felicidade muito genuína. Uma coisa é quando a felicidade é planejada pela possibilidade da vitória, outra é a felicidade com o que é concreto, com o que acaba de acontecer diante dos nossos olhos. O coração bate diferente [risos].”
Oscar no horizonte de 'Ainda Estou Aqui'
Em março deste ano, a equipe de "Ainda Estou Aqui" tem a expectativa de voltar a Los Angeles para a premiação do Oscar. O filme pode estar entre as indicações de Melhor Filme Estrangeiro e de Melhor Atriz, com Fernanda Torres.
Em Portugal, "Ainda Estou Aqui" estreia nos cinemas em 16 de janeiro. No Brasil, mais de 3 milhões de pessoas já foram aos cinemas ver a obra.
Apesar do número de expectadores do longa no cinema, Vinícius afirmou considerar o valor dos ingressos caríssimos.
Para ele, na posição de produtor do audiovisual, não se pode pedir ao público que vá ao cinema "cobrando caríssimo pelo preço do ingresso". "Temos que entender que nosso público só crescerá incluindo da classe C para baixo, essa parte da população que é a maioria esmagadora por aqui."
E completou: "É preciso boa vontade de todos os agentes que realizam e exibem nossos filmes, assim como do poder público que pode perfeitamente fomentar esse processo. Já está mais do que na hora de começarmos a debater e resolver isso."
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