Não houve manifestação direta e clara da produção do programa Era Uma Vez na Quinta —exibido pela SIC, canal aberto de televisão portuguesa— sobre o caso de xenofobia sofrido por uma participante brasileira durante a edição.
Na última quarta (13), a BRASIL JÁ pediu um posicionamento à SIC sobre as ofensas sofridas pela influenciadora brasileira Daniela Salles, que participa do reality show.
A emissora repassou a responsabilidade à produtora Fremantle, responsável pelo programa.
Ao responder à solicitação da reportagem, a empresa informou que a situação ficaria "cabalmente resolvida" no episódio de Era Uma Vez na Quinta exibido no último fim de semana.
Durante o programa, entretanto, não ficou esclarecido que medida foi tomada pela produção no sentido de punir ou mesmo reprovar a conduta dos participantes que protagonizaram os ataques xenofóbicos contra a influenciadora brasileira.
O concorrente Pedro Vieira —participante que designou o papel de "empregada muda" a Dani Salles durante uma dinâmica teatral, com a "justificativa " de não ter que ouvir o sotaque dela— acabou eliminado do programa.
Ele não foi expulso. A saída ocorreu por votação dos próprios integrantes do reality.
Manuela Pinto, outra participante que também direcionou falas xenofóbicas à brasileira, continuou no programa após se desculpar com Dani Salles.
Reunião com participantes
No episódio exibido no último sábado (16), o assunto da peça de teatro que deu origem às ofensas contra a brasileira foi abordado pela apresentadora do programa, Andreia Rodrigues, durante reunião com os participantes.
A apresentadora perguntou a Daniela se a questão havia sido resolvida e como ela se sentia a respeito do caso. Dani disse que havia perdoado Manuela, mas que não pôde fazer o mesmo Pedro porque este não se desculpou sobre as ofensas.
Durante o encontro, Dani enviou um "beijinho do Brasil para o Pedro", e Andreia Rodrigues perguntou o porquê de ela ter feito isso. A concorrente explicou:
"Mandei um beijinho porque foi ele que escreveu a peça e não queria que eu participasse. Por eu ser brasileira, ele escolheu uma empregada doméstica muda. Aí, estou mandando um beijinho do Brasil para dizer que tem uma brasileira aqui e ela tem que pertencer como todos os integrantes".
"As pessoas erram, mas tem que ter humildade de reconhecer o erro e pedir desculpa. Não vejo isso do Pedro. Pelo contrário, ele acha que foi uma brincadeira, uma piada. Mas não foi. Foi com falta de respeito", acrescentou a influenciadora.
Pedro respondeu que pediu desculpas por ter sido "demasiado frio e não ter pensado muito no papel dela", mas negou que tenha ocorrido episódio de xenofobia. "Não peço desculpa pela xenofobia alegada porque não existe. Tão simples quanto isso", afirmou.
Passada a exibição do programa, a BRASIL JÁ perguntou novamente à Fremantle, empresa responsável pela produção do programa, qual medida seria tomada sobre o episódio de xenofobia. A empresa não respondeu até a publicação desta reportagem. O espaço seguirá aberto para eventual manifestação da produtora.
Relembre o episódio
O episódio de xenofobia foi levado ao ar no dia 6 de março.
Durante uma dinâmica em grupo, na qual era necessário montar uma peça de teatro, a então líder do jogo, Manuela Pinto, atribuiu à brasileira Dani Salles uma personagem que seria muda.
Manuela deixou claro que a decisão foi tomada por causa do sotaque da participante.
Ao confrontar Manuela, Dani recebeu como justificativa que sua personagem não teria falas devido à nacionalidade brasileira, já que, segundo a líder, a história da peça possuía elementos exclusivamente portugueses.
O assunto continuou rendendo dentro da casa e, dois dias depois (8 de março), a apresentadora do reality teve uma conversa com Dani, Manuela e também Pedro Vieira, outro concorrente que ajudou a delegar o papel sem falas para a brasileira.
Durante o diálogo, Pedro declarou que atribuiu à participante brasileira um papel secundário devido à falta de afinidade que sente por ela.
No entanto, a emissora transmitiu imagens dos bastidores da escolha de personagens, onde, em diálogo com Manuela, Pedro Vieira assumiu que o problema é o sotaque dela.
"Dani não pode falar, porque vai falar com sotaque brasileiro”, disse Pedro. “Então, colocamos ela de empregada doméstica", respondeu Manuela ao Pedro, que completou: "Brasileira empregada, faço muito gosto".