Juliet e Pyetro, pouco depois de chegarem a Portugal. Crédito: Arquivo Pessoal

Juliet e Pyetro, pouco depois de chegarem a Portugal. Crédito: Arquivo Pessoal

8/3 Dia da Mulher: No peito e na coragem

Juliet Cristino mobilizou o país ao reivindicar os direitos de imigrantes

05/03/2024 às 07:00 | 2 min de leitura
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Família brasileira, dois contra o mundo. O verso anterior, da música Negro Drama, do grupo de rap brasileiro Racionais MC’s, me veio à cabeça enquanto conversava com Juliet Cristino, de 34 anos, sobre a vinda dela para Portugal.

A referência surgiu porque, em 2019, Juliet e o pequeno Pyetro, na época com 3 anos, embarcaram num avião para a Europa com apenas uma mala de dez quilos. 

Foi a forma que ela encontrou de fugir da violência e vislumbrar um futuro melhor para o filho. Mineira de nascimento, a mulher passou parte da vida em Baixo Guandú, no interior do Espírito Santo, divisa com Minas Gerais. 

Depois, se mudou para a capital capixaba, Vitória, a mais de 180 quilômetros de Guandú. Juliet trabalhou como empregada doméstica, em farmácia, lotéricas, vendendo açaí e como garçonete. 

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Juntou dinheiro e se formou como técnica de segurança do trabalho, área em que atuou até entrar no avião e voar para Portugal. 

Assim como outras famílias que decidem atravessar o Oceano Atlântico, o motivo para sair do Brasil foi a insegurança. Juliet já estava com a passagem comprada quando, mais uma vez, foi vítima de um assalto. Os bandidos levaram todo o seu salário daquele mês. 

Com as economias que tinha guardadas, conseguiu se estabelecer em terras lusitanas. Primeiro, vivendo num quarto e trabalhando na área de limpeza. Depois, passou a fazer vendas porta a porta e, hoje, trabalha na área que se formou no Brasil. 

O problema é que Juliet —assim como outros milhares de imigrantes— estava em situação irregular. 

Ela só conseguiria o visto de residência dois anos e seis meses depois de chegar, uma realidade que, infelizmente, retarda sonhos de estrangeiros que se mudam para Portugal. Por ironia, foi dessa situação injusta que nasceu uma indignação que sacudiu o país. 

A gota d’água foi não ter conseguido vaga em agendamento online. As vagas —bastante parecido com o que segue ocorrendo— sumiram quando Juliet tentou se inscrever no portal do então Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). 

A partir daí, a jovem, mesmo com o risco de ser deportada, mobilizou protestos a favor dos direitos dos imigrantes. Contou com amigos e, principalmente, com a Internet para reunir apoio às manifestações.

Os jornais estamparam falas de Juliet, em especial a que ela lembrava aos portugueses que este também é um país de estrangeiros e que imigrantes estavam sendo tratados como lixo. A repercussão foi parar no Congresso e na Presidência da República. 

Juliet e Antonella, nascida em Portugal. Crédito: Arquivo Pessoal

O resultado mais recente do movimento iniciado por ela e outros imigrantes precarizados foi a promulgação da Lei de Nacionalidade. Com a mudança, passou a valer também o tempo de espera por regularização para obter a nacionalidade portuguesa. 

Antes, os imigrantes precisavam comprovar que viviam há cinco anos em território luso, mas só valia o tempo em que estavam regularizados. 

“Eu nunca pensei que fosse vir para cá ser uma ativista, para brigar pelos direitos dos outros. Nunca passou pela minha cabeça. Tudo fluiu. Eu acho que quando fazemos algo de coração, sabe?, há reconhecimento”, disse Juliet à BRASIL JÁ*

Hoje, Juliet vive em Sintra. E a família cresceu. Além de Pyetro, Juliet agora também é mãe da pequena Antonella e vive com o marido, que conheceu aqui.

*Esta entrevista é a segunda de uma série em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

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