Que tal unir as referências da feijoada em uma barra de chocolate? Ou, quem sabe, substituir a pasta de amendoim ou avelã por cacau e licuri, uma espécie de amêndoa típica da caatinga? E sentir aquele gostinho de infância, com a jabuticaba recém tirada do pé?
Essas são apenas algumas das tantas experiências que os visitantes do Chocolat Festival podem ter até este domingo (27), no espaço WOW, em Vila Nova de Gaia. A entrada é gratuita.
O ponto de partida da imersão é um tanto quanto inusitado e obra da chocolatier brasileira radicada em Paris Marina Stroh, da La Brigaderie.
A fim de dar aquele toque de brasilidade a seus chocolates feito no processo bean-to-bar do cacau do Pará e da Bahia, ela criou uma receita com referências da nossa amada feijoada.
“A receita leva feijão preto seco torrado, flocos de arroz, laranja confitada e coco defumado, que faz as vezes das carnes do prato”, explica. O sabor é surpreendente e, de fato, nos faz lembrar um dos pratos mais famosos do Brasil.
Aliás, Marina também tem uma versão de chocolate de moqueca, com tomate seco, pimentão seco e coco. “São pratos conhecidos em todo mundo e o chocolate com essas referências chama a atenção dos consumidores”, afirmou.
Na linha dos sabores, por assim dizer, que fogem do lugar comum, a Kakao Blumenn, da cidade de Brasil Novo, no Pará, apresenta uma barra com jambu, a florzinha do norte do Brasil que provoca uma leve dormência na boca.
“No caso do nosso produto, o jambu traz mais frescor ao chocolate amargo”, explica a chocomaker Verônica Preuss.
A baiana Josiane Luz, da Luzz, apostou na mineirice do doce de leite com coco para criar uma receita de chocolate branco (sim, chocolate branco é chocolate, feito da autêntica manteiga de cacau) para surpreender e ganhar medalha de bronze em um dos maiores concursos de chocolate do mundo.
“Nossa ideia é sempre inovar e mesclar a excelência do cacau com novas sensações”, explica a produtora. E com direito a spoiler: a marca está trabalhando uma receita com jambu e tucupi, o sumo extraído da mandioca super típico no norte e usado em receitas como o pato no tucupi.
Ainda na linha de chocolates com toques especiais, Leo Soares, da Leo Cacau, trouxe algumas marcas baianas com propostas interessantes, como chocolate com mel de uruçu, abelha nativa da região, e de frutas como tangerina e jabiticaba, sem falar na barra de bolo de aipim, cuja textura no final da boca é tal e qual o quitute nordestinos.
“A ideia é sempre provocar as marcas para que trabalhem o chocolate buscando elementos de brasilidade”, acrescentou.
Na essência
Nem só de chocolate é feita a imersão gastronômica pelo Chocolat Festival. O cacau, o fruto que dá origem ao chocolate, também tem o seu protagonismo.
É o caso das amêndoas de cacau caramelizadas, que nada mais é do que a semente do fruto fermentada e seca, envolta em caramelo feito de açúcar demerara e só. Um forma bem mais natural de adoçar as papilas gustativas.
E por falar em dulçor, que tal provar duas versões de geleia que tem o mel do cacau na base? Tem a versão natural e a com pimenta, para quem gosta. O produto é obra da Natucoa, que também trouxe uma versão de pasta de cacau com licuri que vai muito bem no pão ou em panquecas.
Aulas
Entre as atrações do Chocolat Festival, tem muito aprendizado também, com grande oferta de showcookings e workshops. As aulas-show, que têm como protagonista, é claro, o chocolate, são uma ótima oportunidade de ver o ingrediente fora da caixa.
A chef Cidália França, por exemplo, apresentou uma versão de tapioca recheada com chocolate amargo e frutas vermelhas.
"A tapioca, levemente salgada, é um preparo que pode receber vários recheios e casa muito bem com o chocolate amargo e frutas vermelhas. São duas riquezas no Norte do Brasil que combinam muito bem".
O match entre dois tesouros brasileiros - o chocolate e a cachaça - também pediu passagem na apresentação sobre coquetéis, comandados por Raquel Lopes, da Casa Cachaça.
A chef Natacha Fink mostrou como o chocolate também cai super bem na confecção de um prato principal. E com sotaque português: bochechas de porco com mole, o molho mexicano super cremoso que leva chocolate.
“O chocolate é um ingrediente muito versátil. Tem muita untuosidade e isso faz com que o ingrediente harmonize bem com carnes fortes, como de peru, cordeiro ou porco. Basta ter um pouco de coragem e experimentar, como fizemos aqui com a bochecha de porco e uma versão do mole poblano, com ingredientes amazônicos como a castanha do Brasil”, disse.
A programação das aulas continua neste sábado (26), a partir das 14h30. Tem aulas de brownie de chocolate com doce de leite e nozes, com Carolina Sales, de tarte de chocolates sem alergênicos, com Renata Monteiro (Gobeche), sobremesa de cacau ao chocolate, com Natasha Marques, e de bombom de vinho maladamado, com Mariana Cobertta.
Para o domingo, tem aulas curiosas como a que une o dulçor da cenoura, toque defumado e jus de cacau, mousse de cachaça, chocolate e nibs de cacau.
Aprofundamento
Para quem busca conhecimento mais aprofundado sobre o universo do cacau e do chocolate, os workshops são uma atração à parte.
Na edição deste ano, nomes como Chloé Doutre Roussel, Spencer Hyman e Raquel González Setién tratam de temas como a arte da degustação, o futuro e o papel do chocolate bean-to-bar (a versão mais pura do produto).
Tem também a deliciosa harmonização entre chocolate e café, outro tesouro made in Brazil.
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