Voltou à mesa do presidente Lula a possibilidade de expulsão do embaixador israelense Daniel Zonshine, segundo disseram à BRASIL JÁ duas fontes graduadas da diplomacia brasileira.
É a segunda vez que a possibilidade é discutida e agora se dá na esteira de uma crise diplomática entre o Brasil e Israel.
Ao contrário da primeira discussão, quando Lula apenas ouviu e prometeu estudar a medida, desta vez ele está inclinado a acatar a sugestão de seu assessor especial para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim.
A escalada da crise será discutida nesta quarta (21) com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, na reunião que ele terá com o presidente brasileiro. O encontro está agendada para o meio-dia no horário português.
O leitor lembra que no último domingo (18), Lula comparou o assassinato de mais de trinta mil palestinos na Faixa de Gaza ao Holocausto na Alemanha nazista, quando judeus em sua maioria (mas não os únicos) foram perseguidos e mortos em campos de concentração de Aldof Hitler.
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Segundo auxiliares de Lula, como informou a BRASIL JÁ, a fala do presidente ocorreu sob impacto de duas conversas que ele tivera horas antes sobre a região.
Do primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayye, o presidente brasileiro ouvira os números do que considera ser um genocídio: trinta mil mortos, nove mil desaparecidos, setenta mil feridos e sem condição de atendimento e 1,7 milhão de pessoas encurraladas por Israel.
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De autoridades egípcias, Lula ouvira que o governo de Benjamin Netanyahu pressiona o Egito a expulsar os refugiados palestinos da região de Rafah —o que pode ser classificado como uma tentativa de extermínio do povo de Gaza, uma vez que os refugiados não têm para onde ir. De Gaza se foge para Rafah ou é Israel.
A crise não é nova
A primeira vez que integrantes do governo brasileiro falaram sobre a possibilidade de expulsão do embaixador de Israel no Brasil foi ainda em novembro do ano passado.
Na ocasião, Daniel Zonshine, um notório aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusara sem motivo e prova haver gente no Brasil ajudando o Hezbollah a recrutar terroristas no país.
A acusação —muito séria na boca de um agente da diplomacia— não foi respondida pelo presidente, que naquele momento preferiu capitular para ter as liberações para a retirada de brasileiros da Faixa de Gaza. Israel, o leitor lembra, dificultou a liberação de brasileiros na região.
Não é comum na diplomacia, a exemplo do que ocorre com Zonshine, a proximidade política e ideológica entre embaixadores e governantes. A relação é —ou deveria ser— de Estado.
É sabido que o governo de Israel é, hoje, de extrema direita e alvo de questionamentos no exterior e internamente, com marchas regulares por Tel Aviv contra a administração de Netanyahu e seus avanços sobre instituições do país.
Ainda em novembro passado, o governo brasileiro não gostou de o primeiro-ministro israelense ter dado declarações de que fora a Mossad, o serviço secreto de Israel, o responsável por alertar a Polícia Federal da atuação do Hezbollah no país.
A PF prendera naquele ano suspeitos de recrutar pessoas para o Hezbollah.