Era junho de 2017 quando, na Casa Branca, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos deixariam o Acordo de Paris e concretizou a promessa três anos depois, após passar por um longo processo burocrático. Em seu primeiro dia na presidência, Joe Biden assinou a volta ao pacto.
Com Trump reeleito e tomando posse nesta segunda (20), o prazo para desligamento do acordo, desta vez, será de um ano.
E ainda que tenha, a princípio, evitado falar diretamente sobre o tema, a secretária de imprensa de Trump, Karoline Leavitt, e outros assistentes disseram que a saída deve se repetir.
E as consequências de uma nova saída dos Estados Unidos do acordo podem ser graves.
“De modo óbvio, a soma das metas nacionais é reduzida se alguns países abandonarem suas metas”, afirmaram numa análise Mario Larch, da Universidade de Bayreuth, e Joschka Wanner, do Instituto Kiel para a Economia Mundial, na Alemanha.
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Em segundo lugar, afirmam os mesmos pesquisadores, a saída pode levar ao aumento de emissões em outros lugares, devido a deslocamentos da produção de bens intensivos para países não regulamentados e da queda nos preços dos combustíveis fósseis no mercado mundial.
Para tomar a decisão sobre sair ou não, Trump deve esperar para ver como estará a opinião pública doméstica sobre o tema, afirmou Matias Spektor.
“Ele fará esse cálculo sempre em função da política doméstica. O momento crítico será em 2025, quando o Acordo de Paris publicará o resultado da performance dos países-membros pela primeira vez, indicando quem cumpriu e quem faltou com seus compromissos. É impossível saber o que fará.”
Mais impactos previsíveis
Outra consequência ainda mais grave: especula-se nos Estados Unidos que o novo governo Trump pode deixar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 1992, de sigla impronunciável: UNFCCC.
Políticos conservadores de peso defendem a saída. Uma delas é Mandy Gunasekara, ex-chefe de gabinete da Agência de Proteção Ambiental durante a primeira gestão Trump.
Ela disse ao site Politico, no início do ano passado, que isso proporcionará uma "resposta mais permanente" a acordos "que pouco fazem para realmente melhorar o meio ambiente".
Assim como o Acordo de Paris, a convenção de 1992 não é de cumprimento obrigatório. Deixar a convenção, todavia, deixaria os Estados Unidos livres de qualquer obrigação sob a convenção, incluindo a comunicação regular de suas emissões.
É incerto o caminho para sair da convenção, mas se entende que basta uma maioria simples no Senado —e os republicanos são favoritos para ganhar a Casa. Um retorno ao tratado, no entanto, exigiria uma maioria de dois terços no Senado, o que pode ser algo inviável ao longo de décadas.
Em termos de política externa, outra medida de Trump pode afetar a Europa: caso retire recursos militares da Otan, isso significará que os países europeus precisarão investir mais na própria segurança, ficando com menos recursos para investir em seus próprios planos contra a crise climática.
Em fevereiro, ele afirmou que países que não cumprem suas obrigações financeiras com a aliança “são delinquentes” e que ele “encorajaria” o Kremlin “a fazer o que bem entendesse” com eles.
Aposta no petróleo
Domesticamente, a medida mais drástica de Trump em relação ao clima envolve a rápida expansão da produção de combustíveis fósseis —petróleo e gás—, o que, segundo ele, pode reduzir a inflação.
Como diz seu site, Trump quer que os Estados Unidos sejam “o produtor dominante de energia no mundo, de longe!” (nota: desde 2018 o país já o é, tendo produzido mais petróleo em 2023 do que em qualquer outro ano).
Quando presidente, Trump tomou medidas para remover restrições à exploração de petróleo e gás. Desta vez, o America First Policy Institute, um centro de estudos que emprega vários ex-funcionários da primeira gestão Trump, diz que as restrições sob o presidente Biden representam uma "guerra contra a energia americana".
Tal como na primeira vez, o republicano também pode pressionar pela construção de novos oleodutos, usando ordens executivas para agilizar o seu licenciamento.
Espera-se também o uso de ações executivas para reduzir as regulações sobre empresas de petróleo e gás.
Em 2023, por exemplo, a Agência de Proteção Ambiental norte-americana impôs novas regras para reduzir as emissões das operações de derivados do petróleo. “Espera-se que um governo de Trump revogue todas essas disposições”, afirmou Ed Crooks, vice-presidente da consultoria Wood Mackenzie.
No caso dos veículos elétricos, a postura de Trump musou após o apoio formal de Elon Musk, dono da Tesla.
Em março último, a EPA anunciou uma regra definindo rígidos padrões de emissões que poderiam, segundo a agência, fazer com que 68% dos novos carros ou camionetes leves vendidos em 2032 fossem elétricos.
Após reiteradamente taxar as políticas de Biden de subsídios aos veículos como "loucura" e escrever que os apoiadores dos carros deveriam "apodrecer o inferno" (escreveu em caixa alta), Trump disse em um comício em Atlanta em agosto que defende "uma pequena parcela" dos carros serem elétricos.
"Eu tenho que ser assim, sabe, porque Elon me apoiou muito fortemente", disse.