Venceu a civilidade

Acertou a Câmara Municipal de Lisboa, se confirmada a informação adiantada pela Agência Lusa e outros veículos de informação de que está proibida a marcha xenofóbica organizada por grupos de extrema-direita contra imigrantes, agendada para o dia 3 de fevereiro.

A sua realização não poderia mesmo ser tolerada pela sociedade portuguesa. Uma manifestação cujo objetivo é incitar o ódio contra grupos étnicos minoritários ou religiosos vai de encontro ao que se acredita ser um dos mais profundos traços da Europa: ser civilizada e espalhar civilidade.

Embora a decisão da Câmara de Lisboa atribua o cancelamento ao risco de “perturbação grave e efetiva da ordem e da tranquilidade pública”, o que está em causa é a possibilidade de agredir ou não, de desrespeitar ou não o princípio da dignidade humana.

Não é a liberdade de expressão que está sob escrutínio nesta proibição, mas a própria sociedade portuguesa e o Estado português. Fariam vista grossa para o crime anunciado de um grupo de supremacistas —acreditando-se superior sabe-se-lá-ao-quê— de sair ao espaço público para destilar ódio e incitar a violência contra grupos minoritários?

A resposta—que bom!— foi não. A reação da sociedade civil de Portugal e de seus representantes na Câmara de Lisboa foi de que não vai tolerar o cometimento de crime de ódio em plena praça pública.

A defesa de que a sociedade portuguesa não tolere o racismo, a xenofobia, não deve interessar apenas a pessoas não brancas ou a estrangeiros. Interessa a qualquer cidadão civilizado, que acredita nos valores humanos construídos no pós-2º guerra mundial.

Ignorar a violência aos direitos humanos, tolerar o ataque e o ódio a imigrantes, a pessoas não brancas, à comunidade LGBTQIA+, por supostamente não fazerem parte do seu grupo étnico, identitário ou religioso, é falsear o retorno ao período pré-nazista e à ascensão de Hitler.

É a repetição da História como farsa.

A decisão da Câmara de Lisboa fez vencer a verdadeira crença do que é ser europeu. Fez vencer o respeito aos Direitos Humanos. E, ao cabo, fez vencer a Humanidade dentro da sociedade portuguesa.

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