Mais de 40% da população nos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa tem dificuldades para acessar serviços básicos de saúde. Esse é um dos temas centrais de um seminário internacional com os Estados-membros da comunidade, que começa nesta quarta (20), em Lisboa.
Filomeno Fortes, diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Portugal e um dos organizadores do evento, afirmou agência Lusa que a cobertura de saúde nos países que compõem a CPLP é inferior a 60% —Brasil e Portugal integram o grupo.
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“Não há centros de saúde, não há enfermeiros e, portanto, este é outro grande obstáculo para se melhorarem os indicadores sanitários”, afirmou Fortes.
No encontro, que ocorre na sede da CPLP e se vai até sexta (22), será analisada a diversidade nos sistemas de saúde dos países-membros, e estratégias para enfrentar a carência de cuidados primários nas nações.
O seminário reúne representantes dos nove estados-membros, que vão apresentar as particularidades de seus sistemas de saúde.
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“Do ponto de vista sanitário, nós temos países da CPLP que estão em continentes diferentes e que têm níveis de desenvolvimento socioeconômico também diferentes e, por isso, há uma grande diversidade em relação ao panorama das doenças”, explicou o diretor do instituto.
Fortes deu três exemplos para essa diversidade: “Enquanto Angola e Moçambique têm um predomínio das doenças transmissíveis, Portugal tem um panorama de doenças crónicas e Cabo Verde, um país africano, tem um panorama que nós chamamos de transição epidemiológica, o que quer dizer que já começa a ter mais doenças crônicas do que doenças transmissíveis.”
Para ele, isso exige "sistemas de saúde com características distintas, além de políticas sanitárias adaptadas a diferentes realidades”.
Apesar das diferenças, o diretor lembrou que “qualquer que seja a filosofia dos governos, os cuidados de saúde primários continuam a ser a base de qualquer sistema nacional de saúde”.
Filomeno Fortes defendeu um maior compromisso político para aprimorar os serviços de saúde primária, acrescentando que “há países na África, da CPLP, que colocam menos de 10% do seu orçamento geral do Estado para a saúde”, citando Angola e Moçambique como exemplos.
“Tem de haver um reforço da vontade política, porque sem financiamento não há cuidados de saúde primários”, afirmou, acrescentando que os recursos humanos são alguns dos desafios mais urgentes nessa área.
“É necessário investir mais na formação de profissionais em áreas como saúde materna e infantil, porque, sem pessoal qualificado para lidar com vacinação, acompanhamento de grávidas, atendimento às crianças e questões como a desnutrição, os cuidados de saúde primários não serão eficazes”, explicou.
O evento é organizado pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa e pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde, em colaboração com o Secretariado-Executivo da CPLP.
Com a Lusa