Representantes de entidades que dão suporte a imigrantes, em especial a brasileiros, se reuniram no sábado (3) com o objetivo de, entre outros temas, mobilizar o voto popular para as eleições que se avizinham.
Em 10 de março, portugueses e estrangeiros com direito a voto vão às urnas nas eleições legislativas, quando se definirá a composição da Assembleia da República, que integra 230 deputados. Com a corrida eleitoral em mente, os representantes de movimentos sociais querem intensificar o "trabalho de base".
Parte da estratégia foi discutida na reunião reservada, na qual também se abordaram as múltiplas e urgentes demandas da comunidade de estrangeiros.
Falou-se, por exemplo, de regularização de documentos, homologação de estudos para seguir com a carreira em Portugal, e também de casos de violência xenofóbica contra imigrantes, que aumentaram 505% em cinco anos, segundo dados da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial.
Para as eleições, o principal objetivo dos militantes é lembrar aos brasileiros com direito ao voto que o discurso anti-imigração é forte e virulento em partidos mais à direita. Por enquanto, o que se convencionou é que o "trabalho de formiga" e o "boca a boca" serão as principais ferramentas dos militantes.
O alerta vem após sondagem Expresso/SIC, divulgada na semana passada, registrar uma subida expressiva do partido de André Ventura, o Chega, que tem 21% das intenções de votos. O levantamento também indicou que o Partido Socialista (PS) venceria as eleições, mas a direita teria maioria absoluta no Parlamento.
O peso do voto brasileiro
Os representantes de movimentos sociais apostam que um trabalho intensivo nas bases pode mudar o cenário. Sendo a maior comunidade de estrangeiros no país, os brasileiros com dupla nacionalidade e os com residência permanente incluídos no Estatuto de Igualdade de Direitos Políticos podem pesar na balança eleitoral.
Um dos presentes na reunião lembrou que, em 2022, nas eleições presidenciais do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva venceu em Portugal com 64% dos votos, bem à frente do adversário Jair Bolsonaro, que ficou com 36%.
Na avaliação do grupo, ainda que parte do eleitorado brasileiro em Portugal se declare abertamente bolsonarista, acredita-se que é possível repetir o sucesso das eleições brasileiras de dois anos atrás.
Diante da descrença que alguns manifestaram em relação ao voto de conterrâneos, um dos presentes lembrou que a desmobilização na esquerda também era culpa da própria militância. O que se seguiu foi um momentâneo silêncio, como se a mensagem tivesse soado como um convite a "arregaçar as mangas".
Protestos em Lisboa
Também no sábado, no início da noite dezenas de simpatizantes de ideias neonazistas e fascistas marcharam em Lisboa gritando o nome do ditador António Salazar e bradando contra a imigração de muçulmanos.
Mais cedo, um protesto antirracista, também em Lisboa, reuniu aproximadamente 800 pessoas no Largo do Intendente. O ato foi convocado para mobilizar militantes contra o protesto islamofóbico que começaria mais tarde.
Palavras de ordem como "racistas não passarão" e "abaixo Mário Machado" —líder extremista de direita e um dos cabeças da marcha islamofóbica—, foram gritadas pelos manifestantes antirracistas.
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