Imigrantes enfrentam dificuldades no agendamento de entrevistas com a Aima. Crédito: Déborah Lima/BRASIL JÁ

Imigrantes enfrentam dificuldades no agendamento de entrevistas com a Aima. Crédito: Déborah Lima/BRASIL JÁ

Aima cancela agendamentos sem aviso prévio e frustra imigrantes

Brasileiros relatam dificuldades no atendimento e críticas ao sistema de regularização

28/09/2024 às 07:32 | 5 min de leitura
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Estrangeiros que vivem em Portugal afirmam que cancelar e/ou remarcar agendamentos tem sido uma prática corriqueira na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (Aima) —e isso ocorrre desde quando o órgão ainda se chamava Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

A partir da criação da Estrutura de Missão, que começou a funcionar no início do mês com a promessa de zerar os mais de 400 mil processos de residência pendentes, a situação se agravou.

Imigrantes que esperavam meses —até anos— por uma resposta à manifestação de interesse, começaram a ter agendamentos marcados mas, próximo ao dia da entrevista, foram notificados de que o processo foi anulado. Alguns deles, inclusive, só descobriram o cancelamento ao chegar no local de atendimento.

É o caso do operador de produção Mayuri Sousa, companheiro do influenciador digital Kelvy Albuquerque. O casal de brasileiros que compartilha suas experiências de imigração nas redes sociais descreveu a frustração de enfrentar problemas recorrentes com a plataforma de agendamento da Aima.

"Meu marido pediu um dia de férias no trabalho, juntou todos os documentos [...] e nós fomos. Chegando lá, a funcionária da Aima disse que todos estavam sendo remarcados, pois não havia vaga suficiente e a plataforma estava com um problema que não conseguiram comunicar a todos dos reagendamentos”, contou Kelvy.

Ele criticou a falta de comunicação e a dificuldade de acesso ao sistema, ressaltando que muitos imigrantes precisaram viajar entre cidades sem qualquer garantia de atendimento. 

"Vários seguidores me relataram que são aqui do Porto e tiveram que se apresentar em Lisboa duas a três vezes. Não levam em conta a condução, se tem dinheiro para comer ou não, se tem lugar para ficar ou não”, criticou. 

“A gente sabe que na hora de ser taxado, de de ser cobrado aqui, funciona muito bem o sistema. Agora, quando se trata de um olhar cuidadoso para os imigrantes, a gente vê que faz pouco caso", completou.


Marcella Venda, também brasileira que mora em Portugal, contou à BRASIL JÁ que o marido dela passou por uma situação parecida. 

A jornalista de 25 anos contou que, depois de pagar a taxa de 56 euros e receber uma data para comparecer à Aima de Albufeira —mesmo sendo moradores de Faro, a 45 quilômetros de distância—, eles foram informados dois dias antes da entrevista que o atendimento havia sido cancelado. 

A notificação foi feita através de um email que dava a instrução para que seu marido, Yuri dos Anjos, fizesse o reenvio de todos os documentos atualizados até 21 de setembro. Ele fez o procedimento e até a publicação desta reportagem não teve nenhum retorno da Aima.

Aima enviou email cancelando os agendamentos para regularização de imigrantes. Crédito: Marcella Venda/Arquivo Pessoal


Marcella acrescentou que o atendimento telefônico da Aima "é praticamente inexistente", um problema alvo de queixa de muitos imigrantes. Segundo ela, “os próprios funcionários [da Aima] falam que não adianta ligar e nem mandar e-mail, pois ninguém atende ou responde. Eu já mandei inúmeros e-mails para eles e nenhum foi respondido”.

Ela também demonstrou desânimo diante da situação: “Ficamos muito tristes com isso, pois desde que chegamos aqui, nós contribuímos, pagamos todos os impostos. Nunca deixamos de cumprir nossas responsabilidades. Sempre trabalhando —às vezes em até dois lugares—, nos esforçando para conseguir pagar a renda, alimentação...”

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Em entrevista à BRASIL JÁ, o presidente da Aima, Pedro Portugal Gaspar, afirmou que esta questão não está diretamente sob a responsabilidade da agência, e sim da "Estrutura de Missão", criada para ajudar a resolver o acúmulo de pendências relacionadas às autorizações de residência.

"Não consigo responder em nome da Estrutura de Missão [...] a perspectiva é que essa situação seja resolvida até maio, princípio de junho de 2025", disse Gaspar, sem dar detalhes precisos sobre as medidas em andamento.

Até lá, os imigrantes continuam esperando respostas e melhorias no atendimento.

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