18/12/2024 às 21:15
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A percepção dos portugueses em relação à presença de imigrantes no país é excludente, especialmente em relação à comunidade brasileira: 32,7% dos nacionais defendem a diminuição do número de brasileiros no país, enquanto 18,3% afirmam que este contingente deveria "diminuir muito".
Outros 34,7% consideram que o número atual deve ser mantido, e apenas 7,9% acreditam que o fluxo de brasileiros pode aumentar, enquanto 3,8% afirmam que deveria “aumentar muito”. Os que não souberam ou preferiram não responder representam 2,5%.
Os dados são do relatório'O que pensam e sentem os residentes em Portugal sobre a imigração e os imigrantes?', elaborado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, a FFMS. O estudo, que ouviu 1072 pessoas de todas as regiões do país, foi realizado entre junho e agosto de 2024.
Comparativo com outras nacionalidades
O relatório também revela que a tolerância dos portugueses à presença de imigrantes brasileiros é menor do que com outros grupos. Enquanto 40,5% dos inquiridos aceitam manter o número de imigrantes africanos, apenas 34,7% manifestaram a mesma opinião em relação aos brasileiros.
Por outro lado, o grupo que enfrenta maior rejeição é o dos imigrantes do subcontinente indiano — oriundos de países como Índia, Nepal, Paquistão e Bangladesh.
Aproximadamente 60% dos portugueses afirmam que o número desses imigrantes deveria “diminuir” ou “diminuir muito”, apesar de esse grupo representar apenas 9% do total de estrangeiros residentes no país, cerca de 73 mil pessoas.
A percepção negativa em relação à imigração brasileira também aparece nas respostas sobre as vantagens e desvantagens da presença desses imigrantes no país. Para 29% dos portugueses, a presença dos brasileiros traz “mais desvantagens” e 8,7% consideram que gera “muito mais desvantagens”.
Outros 40,5% afirmam ser indiferentes, enquanto 17,9% acreditam que a presença dos brasileiros traz “mais vantagens” e 1,6% defendem que ela oferece “muito mais vantagens”. A porcentagem de inquiridos que não souberam ou não quiseram responder foi de 2,3%.
Os brasileiros também se destacam na percepção sobre os costumes culturais. Eles são considerados o segundo grupo de imigrantes mais próximo dos portugueses, com 15,2% afirmando que os brasileiros possuem “nada de diferença” nos costumes.
O primeiro lugar ficou com as “nações ocidentais”, com 37,1%. Esse dado contrasta com os imigrantes do Leste Europeu, que receberam apenas 6,1% na mesma categoria.
Além disso, os números revelam que os portugueses tendem a superestimar a quantidade de imigrantes no país. Enquanto os estrangeiros correspondem a cerca de 10% da população, muitos portugueses acreditam que o número é maior: duas em cada quatro pessoas (42%) acham que há mais de 20% de estrangeiros no país.
A estimativa inflacionada do número de imigrantes contrasta com outro dado revelado pelo relatório: pouco mais da metade dos inquiridos diz ter pouco ou nenhum contacto com estrangeiros.
Contradições e percepções inflacionadas
Apesar da percepção de ameaça cultural e econômica, o estudo mostra contradições. Embora 68% dos portugueses considerem que os imigrantes são fundamentais para a economia, 52% acreditam que eles recebem mais do que contribuem para a Segurança Social — uma afirmação desmentida pelos dados da Segurança Social, colhidos pela BRASIL JÁ.
Os imigrantes, de forma geral, deram à Segurança Social um saldo positivo de mais de 2 bilhões de euros em 2023. Os brasileiros, a maior comunidade estrangeira em Portugal —mais de seiscentas mil pessoas—, contribuíram com mais de um bilhão de euros à Segurança Social em Portugal no ano passado. O valor recorde representa 40% do total de contribuições de estrangeiros ao caixa português e, com relação a 2022, cresceu 54%.
A discrepância entre a percepção e a realidade também aparece em outros pontos: uma maioria expressiva de 67% acha que os estrangeiros aumentam a criminalidade, bem como 69% acredita que os imigrantes contribuem para manter os salários baixos.
Sobre o aumento da criminalidade, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, declarou em outubro que “de janeiro a agosto [de 2024], os níveis de criminalidade reportada desceram 6,4%, menos 16.000 crimes reportados."
Na altura, quando questionado na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias sobre a relação entre a imigração e a criminalidade, o ministro recusou esta associação e as generalizações.
“Não podemos ignorar os medos e perceções dos portugueses, mas também não devemos incentivá-los. Não são aceitáveis as generalizações indecentes, nem afirmações de associações falsas” como a que liga a imigração e o crime, “que a realidade e os números desmentem”.
Opiniões políticas e condições de vida
O posicionamento político dos inquiridos também influencia suas opiniões sobre a imigração. Indivíduos que se identificam com a direita tendem a ter uma maior oposição aos imigrantes, especialmente aos originários da África e do subcontinente indiano.
Em contrapartida, os que demonstram maior satisfação com o regime democrático português são mais abertos à chegada de estrangeiros e são favoráveis à ampliação dos direitos dos imigrantes.
Desigualdade e exclusão social
Os imigrantes também enfrentam desafios sociais significativos. O estudo aponta que 26,6% dos imigrantes vivem em situação de pobreza ou exclusão social, em comparação com 19,4% dos portugueses.
Em termos de habitação, 40,6% dos inquiridos acreditam que os imigrantes têm menos acesso, mas a maioria não percebe diferença entre estrangeiros e portugueses no acesso a serviços de Saúde, Educação e Justiça.
É nesse contexto que, conforme repercutido pelo Público, PSD, CDS e Chega querem alterar a Lei de Bases da Saúde, restringindo o acesso ao Serviço Nacional de Saúde a cidadãos estrangeiros não residentes em Portugal.
Os governistas querem garantir que os cidadãos estrangeiros não residentes em Portugal só poderão usufruir do SNS caso apresentem um "comprovativo de cobertura de cuidados de saúde", enquanto o Chega quer excluir da lista de beneficiários cidadãos “nacionais de países terceiros ou apátridas, requerentes de protecção internacional”.
O tema será debatido em plenário, por iniciativa do Chega, nesta quinta (19).
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