Desde 2008, em termos numéricos, a presença de imigrantes irregulares na Europa não sofreu grandes mudanças. É o que conclui um estudo do grupo Medindo a Imigração Irregular (MIrreM, na sigla em inglês).
O resultado vai de encontro a narrativas histéricas anti-imigração, principalmente disseminadas por grupos extremistas —parte deles também presente em Portugal—, que apontam para um suposto descontrole do número de estrangeiros que decidem viver no velho continente.
Divulgada no início desta semana, a pesquisa aponta que entre 2016 e 2023 em torno de 2,6 milhões e 3,2 milhões de imigrantes irregulares viviam em doze países europeus, incluindo o Reino Unido —em 2020, no processo conhecido como Brexit, o Reino Unido decidiu sair da comunidade europeia.
MAIS: Aima reabre agendamentos para famílias com crianças e jovens até 18 anos
Os dados levantados no estudo sugerem que "não houve mudança definitiva no número e divisão [entre os países] de migrantes irregulares desde 2008". Os pesquisadores comparam o resultado acima com números do Projeto Clandestino, de 2008.
Há dezesseis anos, o Clandestino estimou que a população irregular vivendo nos mesmos doze países ficava entre 1,8 milhão e 3,8 milhões, praticamente o mesmo resultado encontrado pelo Medindo a Imigração Irregular.
"Isso deixa uma faixa [de estimativa] significativa na qual não se pode discernir as mudanças na população migrante irregular desde 2008", afirmam os pesquisadores do Medindo a Imigração Irregular.
ENTENDA: Como consultar processos de nacionalidade na nova plataforma do IRN, com novas funções
A partir do resultado, o comunicado do grupo menciona justamente que a descoberta contraria a narrativa de que há uma crescente migração irregular no continente.
Denis Kierans, pesquisador sênior no Centro de Migração, Política e Sociedade, da Universidade de Oxford, afirmou que embora o resultado seja expressivo —3,2 milhões de pessoas em situação irregular—, colocado em contexto o número representa menos de 1% da população total dos países estudados.
"Acima de tudo, a população migrante irregular nos países europeus que estudamos não aparenta ter mudado definitivamente desde 2008", afirmou Kierans.
Outras conclusões
De forma mais detalhada, o que o grupo de pesquisadores conseguiu identificar foi que, na comparação entre 2008 e os dados atuais, em três países dos doze Estados estudados as estimativas indicam que de fato houve um aumento do número de imigrantes indocumentados.
São eles: Áustria, Alemanha e Espanha. Por outro lado, os pesquisadores concluíram que em outros quatro países europeus a estimativa de pessoas vivendo irregularmente se manteve a mesma. Foi o caso de Bélgica, França, Itália e Reino Unido.
Completando a lista dos doze estão Finlândia, Grécia, Irlanda, Países Baixos e Polônia.
O Medindo a Imigração Irregular conta com pesquisadores de dezoito instituições, com a Universidade de Oxford à frente do projeto, e no início desta semana lançou uma nova base de dados voltada para o tema. É possível consultar os números aqui.