As eleições norte-americanas preocupam e geram expectativa em Portugal e na Europa como um todo. A ameaça de Trump de intensificar políticas anti-imigração e adotar medidas protecionistas também ecoa na comunidade portuguesa nos Estados Unidos, historicamente dividida, mas que em Newark, onde há uma grande concentração de luso-americanos, tende a inclinar-se para o voto republicano.
De acordo com a Lusa, o apoio ao ex-presidente está fundamentado em percepções de estabilidade econômica e segurança pessoal, o que reflete um panorama de apoio ao candidato republicano entre muitos imigrantes portugueses.
A divisão de opiniões entre a comunidade portuguesa de Newark reflete as tensões mais amplas em Portugal e na Europa sobre o futuro das políticas de imigração e economia. Em Newark, onde muitos imigrantes portugueses sentem que Trump representa estabilidade na economia, o apoio ao republicano permanece, mesmo com discordâncias quanto à postura de Trump no âmbito da retórica pessoal.
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O caso da imigração
O impacto das eleições nos direitos civis e nas políticas sociais preocupa eleitores portugueses e descendentes. Ainda segundo a Lusa, residentes na Pensilvânia, um dos estados pêndulo que tem peso importante na corrida eleitoral, expressaram apoio a Kamala Harris, temendo o retrocesso de direitos sob uma nova administração Trump, que prometeu endurecer as leis de imigração e reverter políticas progressistas.
As questões de imigração e direitos civis também ressoam em Portugal, onde a ascensão de movimentos de extrema direita e anti-imigração é cada vez mais visível. Essa tendência encontra paralelos no fortalecimento de partidos e políticas semelhantes na Europa continental. O Chega, partido de extrema direita, faz eco de algumas promessas de Trump, especialmente em relação ao controle de fronteiras e restrições aos direitos de imigrantes.
Já o primeiro-ministro Luís Montenegro, durante inauguração das novas instalações do Consulado-Geral de Portugal em Nova Iorque, evitou comentar as eleições norte-americanas. Quando perguntado se seria melhor a vitória de Trump ou Harris, limitou-se a dizer que a intenção do seu governo é "obviamente, de continuar a desenvolver nos próximos anos" as relações bilaterais com os Estados Unidos.
Na Europa, o retorno de Trump ao poder poderia incentivar o endurecimento das políticas de imigração de forma ainda mais significativa. Na Alemanha, França e Itália, por exemplo, a retórica anti-imigração é uma bandeira de partidos de direita e ultradireita, que veriam uma eventual vitória de Trump como um estímulo para defender políticas mais restritivas em seus próprios países.
O discurso da chamada "crise imigratória" não leva em conta, entre outros fatores, o da contribuição econômica e bônus demográfico, que o número de imigrantes irregulares na Europa mudou pouco nos últimos dezesseis anos.
A BRASIL JÁ repercutiu estudo do grupo Medindo a Imigração Irregular (MIrreM, na sigla em inglês), que apontou que entre 2016 e 2023 em torno de 2,6 milhões e 3,2 milhões de imigrantes irregulares viviam em doze países europeus, incluindo o Reino Unido — em 2020.
Esses dados foram comparados com os do Projeto Clandestino, de 2008. Na época, o estudo estimou que a população irregular vivendo nos mesmos doze países ficava entre 1,8 milhão e 3,8 milhões, resultado bem próximo ao que foi encontrado pelo Medindo a Imigração Irregular.
Ou seja, segundo o resultado aferido pelo grupo não houve um aumento tão expressivo do número de imigrantes na Europa, como costuma argumentar uma parte mais histérica da política.
Panorama econômico
No campo econômico, a perspectiva de um retorno ao protecionismo por parte de Trump também deve suscitar preocupações em Portugal, especialmente para setores como o têxtil, cujas exportações para os Estados Unidos representam uma parcela significativa de sua economia.
À Lusa, o especialista Ian Lesser avalia que, no caso de uma vitória do candidato republicano, é possível conceber no período pós-eleitoral "um ambiente muito mais difícil, com muito mais nacionalismo econômico, e não apenas nos Estados Unidos", com a crescente de protecionismo dos principais blocos econômicos.
Caso Trump reviva práticas tarifárias e restritivas, a economia portuguesa e a de outros países europeus, que dependem do mercado norte-americano, poderiam sofrer impactos negativos, reduzindo a competitividade de seus produtos no mercado externo.
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Lesser acrescentou que uma potencial "disfunção Estados Unidos-União Europeia" afetaria Portugal. O país tem sustentado a integração europeia e a relação transatlântica como eixos da sua política externa, evitando, contudo, criar obstáculos à sua relação bilateral com Washington.
Fato é que, em Portugal e na Europa, as consequências reverberam entre preocupações com o futuro das relações comerciais e a ameaça de uma nova onda de políticas anti-imigração, que pode redefinir o equilíbrio da integração e cooperação europeia nos próximos anos.