A morte do papa Francisco, anunciada oficialmente pelo Vaticano na manhã desta segunda (21), dá início a um ritual solene e cuidadosamente coreografado da Igreja Católica: o processo de transição para a escolha de um novo pontífice.
O enterro, como de costume, deve ocorrer entre o quarto e o sexto dia após a morte. Conforme a tradição, os funerais seguem o que foi determinado previamente pelo próprio pontífice. Ele deve ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, conforme seu desejo.
A Igreja entra então num período de luto de nove dias, conhecido como novemdiales, com celebrações diárias em memória do líder falecido.
Quinze dias após a morte do papa, começa o conclave: assembleia fechada em que os cardeais com menos de 80 anos – e que não estejam excomungados – elegem o novo chefe da Igreja Católica. A palavra conclave vem do latim cum clave (“com chave”), referindo-se ao isolamento absoluto dos participantes.
Durante o conclave, os cardeais são alojados na Casa Santa Marta, dentro do Vaticano, e transportados à Capela Sistina por meio de um túnel secreto. Lá, participam de uma missa e juram seguir as regras da eleição antes de começarem as votações.
As sessões ocorrem duas vezes por dia. Para que um candidato seja eleito, é necessário obter dois terços dos votos. Após cada votação, os boletins são queimados: se não houver consenso, a fumaça que sai pela chaminé da capela é preta; se um novo papa for escolhido, a fumaça é branca, sinalizando a eleição ao mundo.
Memórias e curiosidades dos conclaves anteriores
O conclave é um dos eventos mais antigos e enigmáticos do catolicismo. Embora sua estrutura atual tenha se consolidado ao longo dos séculos, relatos históricos indicam que o primeiro conclave remonta ao ano 33 d.C., quando São Pedro foi reconhecido como o primeiro papa.
Entre os mais emblemáticos da história moderna, está o conclave de 2005, que elegeu Joseph Ratzinger como Bento 16 em apenas dois dias – um dos processos mais rápidos já registrados.
Em contraste, o conclave mais longo aconteceu no século 13, levando quase dois anos até que o cardeal Tedaldo Visconti se tornasse o papa Gregório 10. A demora foi tamanha que os cardeais acabaram confinados em uma pequena sala e submetidos a uma dieta de pão e água.
Em 2013, o conclave que elegeu o papa Francisco teve um momento inusitado: uma falha técnica no forno confundiu o público ao emitir uma fumaça acinzentada, dificultando a identificação do resultado.
Já em 1978, o polonês Karol Wojtyla foi eleito como João Paulo 2º, tornando-se o primeiro papa não italiano em mais de quatro séculos.
Além disso, há registros de papas eleitos por erro ou pressão política, como o papa Formoso, cujo papado foi posteriormente alvo de disputas. Outros, como Clemente V, marcaram períodos conturbados, como o início do papado em Avignon, na França.
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