Em mais de uma ocasião ao longo dos 12 anos como líder da Igreja Católica, o papa Francisco, que morreu na manhã desta segunda (21), falou em defesa dos direitos dos imigrantes. Antes mesmo de Donald Trump ser eleito presidente dos Estados Unidos e promover uma perseguição sistemática a estrangeiros naquele país, o papa já sinalizava estar preocupado com o tema.
"É preciso dizer claramente: há quem trabalhe sistematicamente por todos os meios para repelir os migrantes. E isso, quando feito de forma consciente e responsável, é um pecado grave", afirmou Francisco em agosto do ano passado.
Por suas duras declarações contra as políticas que rejeitam imigrantes, o papa foi alvo de críticos radicais que o acusavam de militar à esquerda quando, na verdade, Francisco apelava aos governantes que respeitassem a integralidade dos Direitos Humanos.
Francisco manifestou pesar e olhou especialmente para os imigrantes que atravessam desertos e mares em busca de uma vida mais digna, clamando aos líderes do mundo que encontrassem formas de criar rotas seguras para as pessoas que fogem de calamidades.
"Na era dos satélites e dos drones, há homens, mulheres e crianças migrantes que ninguém quer ver. Só Deus os vê e ouve o seus gritos", disse o papa.
'Leis restritivas não são solução'
Francisco afirmou que leis restringindo a circulação de pessoas não são a solução para a questão migratória. O papa se referiu também à militarização de fronteiras, tal qual ocorre hoje em dia na Europa e nos Estados Unidos.
O papa pregava a necessidade de haver uma governança global da migração baseada na justiça, na fraternidade e na solidariedade. Nesse contexto, Francisco reforçou ser preciso combater o tráfico de seres humanos "que lucram impiedosamente com a miséria".
Tais declarações ocorreram em paralelo ao plano do governo italiano de criar prisões para estrangeiros na Albânia, levado a cabo em outubro de 2024 pela chefe do governo, Giorgia Meloni.
Francisco oportunamente lembrou aos fiéis italianos a doutrina católica que inclui, entre os seus mandamentos, "dá-lhes de comer". "Deem-lhes a vossa mão para os acompanhar. Dá-lhes a mão para que não se submerjam, especialmente os migrantes", afirmou o papa.
A fala de Francisco se relacionava com a notícia de que a Itália havia deportado um grupo de dezesseis pessoas para a Albânia, para uma prisão financiada pelo governo italiano.
Meloni e seus subordinados quiseram encontrar uma forma de evitar que os migrantes chegasssem à Itália e pedissem refúgio, algo que embora sofra resistência interna nos tribunais, acabou sendo implementado.
A União Europeia apoiou a medida, que agora ganha eco em mais países da comunidade de países. Em Portugal, o governo anunciou que vai gastar 30 milhões de euros para construir dois centros de detenção de estrangeiros, cada um com capacidade para manter presas até trezentas pessoas. A diferença para a Itália é que tais centros serão construídos no próprio território português.
Deportações nos EUA
Já debilitado, Francisco manteve o foco na questão migratória e fez firmes críticas às deportações em massa nos Estados Unidos. Isso ocorreu em fevereiro deste ano, depois que o magnata Donald Trump venceu a corrida pela Casa Branca e pôs na rua uma de suas promessas eleitorais populistas: perseguir imigrantes em situação irregular e expulsá-los.
Francisco enviou uma carta aos bispos estadunidenses em que dizia que as deportações eram uma atentado à dignidade das pessoas que deixam suas terras por razões de extrema pobreza, insegurança, exploração, perseguição ou grave deterioração do ambiente.
"Prejudica a dignidade de muitos homens e mulheres, de famílias inteiras, colocando-os num estado de particular vulnerabilidade", escreveu o papa.
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