O primeiro-ministro, António Costa, disse neste sábado (17) que o projeto europeu, baseado em valores como a solidariedade e a coesão está "sob ataque" da direita, incluindo a tradicionalmente mais moderada, "que se deixa condicionar pelo populismo".
"Somos defensores de uma Europa mais unida, mais solidária, mais social, mais coesa, mais aberta ao mundo, mais alargada e mais aprofundada. Esta nossa visão da Europa está sob ataque, da direita populista, mas também da direita democrática que se deixa condicionar pelo populismo", disse durante sua passagem por Barcelona, onde recebeu hoje o Prêmio para os Valores Europeus do Partido Socialista da Catalunha.
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O líder do governo e ex-secretário-geral do Partido Socialista (PS) defendeu que "perante as ameaças globais" e ao contrário do que pretende o populismo, a resposta é "mais Europa", nomeadamente, "mais solidariedade", investimento em inovação e emprego, reforço dos laços da União Europeia com os outros continentes, aposta no alargamento do bloco comunitário (à Ucrânia e aos Balcãs ocidentais) e o aprofundamento do projeto de integração europeu "para garantir a paz".
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"Perante os receios, a ansiedade, a incerteza" de desafios como a globalização, as transições digital e climática ou a ameaça da guerra, "a resposta não é o discurso do medo do discurso das direitas, mas as políticas que reforçam a confiança", acrescentou António Costa, que considerou que "esta é a grande diferença" que separa a esquerda europeia da direita neste momento.
"Os populistas alimentam-se do medo, nós, socialistas, temos de alimentar a Europa de confiança", afirmou.
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Num discurso em que falou em catalão e espanhol, António Costa lembrou os antigos primeiros-ministros de Portugal e Espanha Mário Soares e Felipe González para sublinhar que os valores europeus da igualdade, solidariedade, dignidade humana, democracia e respeito pelos direitos humanos "coincidem verdadeiramente" com "o DNA dos socialistas" e que "a integração europeia foi o grande desígnio da geração que liderou as transições democráticas" nos dois países.
"Só na Europa as democracias ibéricas se consolidariam", afirmou, antes de defender que "os socialistas da Península Ibérica têm hoje um papel fundamental para o projeto europeu."
Neste contexto, defendeu o que considera ser o legado europeu dos governos de Portugal desde 2015 (que liderou) e dos de Espanha desde 2018, com o socialista Pedro Sánchez como primeiro-ministro.
Entre outros aspetos, considerou que foram períodos, nos dois países, de "virada de página da austeridade" para o crescimento econômico e com as contas públicas equilibradas, do alargamento da igualdade, da "vanguarda no combate às alterações climáticas" e em que "a estratégia de investimento nas energias renováveis foi recompensada durante a crise energética" em 2022 e 2023, com uma solução ibérica para os preços da eletricidade que, afirmou, se tornou na referência para o debate da reforma do mercado europeu.
"Muitos europeus têm olhado para os governos de Portugal desde 2015 e de Pedro Sánchez em Espanha desde 2018 e têm podido testemunhar as soluções que encontramos", afirmou.
Para o futuro, Costa insistiu, entre outros aspetos, na abertura da Europa ao mundo e no papel que Portugal e Espanha podem ter nesse contexto por causa dos laços históricos e atuais dos dois países com a América Latina e África, reiterando, em concreto, a defesa do acordo comercial da União Europeia com o Mercosul (bloco formado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
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O Partido Socialista da Catalunha (PSC, estrutura regional do Partido Socialista Operário Espanhol) atribuiu o Prêmio para os Valores Europeus a António Costa por considerá-lo "uma referência" da esquerda europeia e do europeísmo, segundo foi anunciado em setembro do ano passado.
Na cerimónia deste sábado em Barcelona, o líder dos socialistas catalães, Salvador Illa, defendeu que António Costa, além de europeísta, é um político com um percurso marcado pelo diálogo e pela capacidade de fazer acordos numa trajetória que considerou exemplar e que deixa "uma mensagem potente" para outros países e regiões, como Espanha.
Esta foi a segunda edição do prêmio que, no ano passado, foi atribuído ao alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, o catalão e também socialista Josep Borrell.
O prêmio procura distinguir, segundo o PSC, personalidades que contribuíram para a construção e integração do projeto europeu e para a promoção do diálogo e da concórdia entre os povos.
Com Agência Lusa